Aquecimento para a reunião do COPOM: Juros devem ser mantidos, apesar da preocupação com riscos à inflação futura

Por Marcela Kawauti, economista-chefe da Lifetime Asset
1. Expectativa
Após decidir pela interrupção do ciclo de corte de juros na reunião de maio, a expectativa é de que o Copom mantenha a taxa básica em 10,50% até pelo menos o final de 2024. O aumento dos riscos ao cenário prospectivo da inflação e o compromisso com a convergência à meta tiraram o espaço para flexibilização no 2º semestre do ano.
O lento processo desinflacionário, a resistência dos preços de serviços e a piora nas expectativas para o IPCA se juntam aos recentes desenvolvimentos desfavoráveis de política fiscal e às incertezas relacionadas à condução da política monetária. Além disso, o ambiente externo desafiador e a valorização da moeda americana se juntam ao rol de preocupações do colegiado.
2. Evolução dos dados
O dado mais recente do IPCA mostra variação de 4,23%, em 12 meses, acima dos 3,93% do mês anterior e próximo aos 4,19% verificados nos 6 meses anteriores.
O desemprego segue em patamar historicamente baixo (7,10% em maio, abaixo do dado de abril e dos 6 meses anteriores). O dinamismo na atividade provoca aceleração da massa salarial. A soma dos rendimentos recebidos pelos trabalhadores cresceu 8,89% em maio em termos reais na comparação com o mesmo mês do ano passado. A variação é maior do que os demais períodos.
Por fim, o stress recente nos mercados e as incertezas domésticas trouxeram impacto relevante sobre o dólar. Em julho, o real brasileiro se desvalorizou e chegou a R$/USD 5,65, bem acima da média de R$/USD 5,08 dos 6 meses anteriores. A possibilidade de repasse da alta da moeda americana para os preços finais no mercado local pode ser fonte importante de inflação, em especial em um cenário de demanda aquecida.
3. Evolução das projeções
A piora nas projeções apuradas pela pesquisa Focus tem sido um dos principais fatores por trás da cautela por parte do Banco Central. A alta na expectativa para o IPCA tanto para este ano quanto para o próximo mostra que os analistas não acreditam em convergência ao centro da meta de 3,0%, mesmo com a expectativa de manutenção da Selic até o final do ano. Em suma, o relatório indica que apesar dos juros em patamar elevado, a inflação ao consumidor deve seguir perto do teto da meta.