As 24 horas iniciais de Trump na Casa Branca e os potenciais impactos das primeiras medidas assinadas

Na segunda-feira, dia 20 de janeiro de 2025, Donald Trump tomou posse pela segunda vez como presidente dos Estados Unidos. Em seu primeiro dia, o novo líder assinou quase 50 medidas, incluindo memorandos e nomeações. 26 delas foram as chamadas ordens executivas, documentos que não precisam ser aprovados pelo Congresso, tendo força de lei.
O novo mandato começou em velocidade acelerada e de maneira incomum. A título de comparação, em seu primeiro dia de mandato, Joe Biden assinou 9 ordens e Trump ratificou apenas uma nas primeiras 24 após a sua posse em 2017. O total assinado por Trump em seu primeiro dia é mais da metade da média anual dos demais presidentes americanos desde os anos 80 (vide comparação acima).
Destacamos abaixo os pontos que consideramos mais importantes por conta de seu impacto potencial sobre a economia e os preços dos ativos. Vale destacar, no entanto que algumas medidas podem ser contestadas judicialmente caso seu conteúdo seja contrário à Constituição Americana.
REFORMULAÇÃO DAS REGRAS DE IMIGRAÇÃO
- Declaração de emergência nacional e envio de tropas à fronteira com o México;
- Fim da cidadania para filhos de imigrantes sem documento nascidos nos Estados Unidos;
- Deportação de imigrantes que aguardam audiência judicial.
POR QUE IMPORTA?
A efetivação de medidas práticas para diminuir o número de imigrantes em território americano indica que essa deve ser uma das prioridades do segundo governo de Donald Trump. Vale destacar, no entanto, que mais de 5% da força de trabalho americana é composta de estrangeiros sem documentos, e a retirada destas pessoas pode resultar em escassez de mão de obra e aumento da inflação de salários, principalmente em setores como construção civil, restaurantes e serviços de transporte.
INCENTIVO À PRODUÇÃO DOMÉSTICA DE ENERGIA
- Declaração de emergência energética nacional;
- Incentivo, reversão de regulação climáticas e redução de burocracia para aumento da produção doméstica de petróleo e gás;
- Permissão da produção de energia no Alaska.
POR QUE IMPORTA?
Trump sinalizou que as medidas têm como objetivo a redução dos preços de combustíveis e menor dependência do comércio internacional de fontes de energia. Por outro lado, a reversão de regulação climática pode trazer impactos ambientais significativos.
COMÉRCIO INTERNACIONAL E ACORDOS MULTILATERAIS
- A lista de medidas assinadas por Trump não consumou, por enquanto, a promessa de aumentos de tarifas sobre produtos importados. No entanto, o novo presidente indicou que as medidas serão efetivadas até o início de fevereiro. Além disso, o foco foi redirecionado da China para Canadá e México que devem receber uma tarifa de 25% sobre seus produtos exportados para os Estados Unidos;
- Saída do acordo de Paris de medidas climáticas e da Organização Mundial da Saúde OMS.
POR QUE IMPORTA?
A saída dos Estados Unidos de acordos e organizações multilaterais reforça o discurso isolacionista adotado por Trump durante a campanha e argumenta a favor de uma maior fragmentação geopolítica nos próximos anos. Além disso, ainda que as tarifas tenham ficado em segundo plano, é muito provável que os produtos importados pelos americanos sejam taxados nas próximas semanas. Por um lado, a medida tem potencial de aumento de receita para o governo americano. Por outro, há um aumento da incerteza relacionada às relações comerciais e a sua efetivação deve gerar um aumento da inflação ao consumidor.
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Em resumo, a velocidade com que as medidas foram assinadas e o seu conteúdo indicam que Trump tende a implantar suas promessas de campanha com rapidez. Os impactos são múltiplos e variam desde incerteza no campo das relações internacionais até aumento de inflação ao consumidor americano e menor espaço para cortes de juros no país.
Neste contexto, a economia brasileira também será afetada. Há oportunidades de ocupar parte do vácuo deixado pela fragmentação geopolítica, ainda que ela seja em parte compensada pela possibilidade de queda na corrente de comércio mundial e consequente desaceleração da economia chinesa.
Por fim, a eventual piora da inflação ao consumidor teriam efeito sobre o espaço para a normalização dos juros americanos, com expectativa de FED Funds mais altos no médio prazo. Este impacto também seria sentido nas taxas de câmbio com aumento do fluxo direcionado à renda fixa nos Estados Unidos e fortalecimento do dólar americano.