As Razões Por Trás Da Cautela Do Banco Central
Ao longo do primeiro trimestre de 2024, o Banco Central Brasileiro cortou os juros em 3 ocasiões, nas reuniões de janeiro, março e maio, somando uma queda de 125 pontos base na Selic. Após a interrupção do ciclo entre junho e julho, o Copom retomou o ciclo de alta nas reuniões de setembro e novembro. Dessa forma, a Selic passou de 10,50% para 10,75% e, em seguida, para 11,25%, inclusive com indicação de novas elevações nos próximos meses.
Num contexto de normalização das taxas nos Estados Unidos e na Europa e inflação brasileira próxima dos 4,5%, ou seja, ao redor do teto da meta perseguida pelo Comitê de Política Monetária, muitos investidores se perguntam: por que o Banco Central precisou apertar a política monetária e colocar os juros em patamar ainda mais restritivo?
A explicação da retomada do ciclo de alta deriva de alguns fatores, tanto relacionados ao campo doméstico quanto ao ambiente externo. O primeiro ponto tem a ver com o já supracitado fato de a inflação corrente estar no teto do intervalo de tolerância. A mira do Banco Central deve ser o centro da meta, ou seja, 3,0% a.a., enquanto a banda serve para acomodar mudanças de conjuntura, cujos impactos sobre os preços sejam majoritariamente temporários e não estruturais. Caso haja algum choque, como por exemplo uma alta inesperada dos preços de petróleo e energia, a inflação pode sair rapidamente deste intervalo.
Uma outra questão importante é a desancoragem de expectativas. O relatório Focus mostra projeções de inflação próxima dos 4% em 2025 e um pouco abaixo deste patamar em 2026. A desconfiança em relação ao cumprimento da meta nos próximos anos induz maior inércia para a inflação, uma vez que os agentes acabam antecipando aumentos com base na expectativa que seus custos também subirão adiante.
As incertezas em relação às contas públicas também têm grande importância na decisão do Banco Central. De maneira simplificada, quando se adota um regime fiscal expansionista, a política monetária precisa ser ainda mais contracionista para contrapor o impulso à demanda. O presidente do Banco Central Brasileiro tem sido enfático em suas comunicações recentes, dizendo que não haverá queda de juros enquanto não houver compromisso com a sustentabilidade do orçamento público.
Do lado externo, o risco geopolítico também é um fator relevante. A escalada recente das tensões, principalmente no Oriente Médio, gera maior aversão ao risco e a chamada fuga para a segurança. Nesse contexto, o dólar americano ganha força e as moedas dos países emergentes, como o real brasileiro, se desvalorizam. O repasse da piora do câmbio para os preços é um risco à convergência da inflação à meta.
Por fim, a expectativa de queda de juros mais lenta nos Estados Unidos, seja por conta da resistência dos preços ao consumidor, seja por conta da possibilidade de implantação de medidas com efeitos inflacionários pelo novo presidente americano, também joga a favor do dólar.
Olhando para frente, a expectativa é de que o Banco Central Brasileiro mantenha o viés contracionista da política monetária. Novas altas de juros podem acontecer na última reunião do ano — em dezembro — e também no transcorrer do primeiro semestre de 2025. Um eventual ciclo de normalização de juros depende fortemente da reancoragem de expectativas de inflação e da redução do grau de incerteza em relação ao equilíbrio das contas públicas.
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