Copom | Primeiras Impressões: Colegiado manteve a Selic em 10,5%, mas trouxe piora no balanço de riscos
Por Marcela Kawauti, economista-chefe da Lifetime Asset
Pela 2ª reunião consecutiva, o Copom manteve a taxa Selic em 10,5%, em linha com a expectativa majoritária dos analistas. O destaque da reunião veio do tom mais duro do comunicado que acompanhou o resultado com piora relevante do balanço de riscos. Com relação às medidas correntes de preços, houve arrefecimento da desinflação medida pelo IPCA e os núcleos seguem acima do teto da meta.
O ambiente de forte atividade econômica e percepção de agravamento da perspectiva fiscal impactam os preços dos ativos e as expectativas dos agentes levando à desancoragem de expectativas de inflação por período prolongado e depreciação importante da taxa de câmbio. O cenário referendou a importância de o Banco Central ter interrompido o ciclo de cortes da Selic na reunião de junho.
As simulações apresentadas pelo colegiado reforçam o ambiente desafiador para o horizonte relevante de política monetária. O resultado dos modelos indica inflação em 3,4% no 1º trimestre de 2026 no cenário de referência (que usa como premissa a queda das taxas para 9,5% no ano que vem trazido pela pesquisa Focus) e para 3,2% no cenário alternativo (Selic estável). Os cálculos sugerem, portanto, que a manutenção dos juros no atual patamar por um longo período é necessária para trazer os índices de preços para próximo do centro da meta.
O comunicado reforçou que o panorama exige vigilância e cautela e que a política monetária será guiada pelo firme compromisso de convergência de inflação à meta. O cenário base é de manutenção da taxa em 10,5% até pelo menos o final do ano. O tom mais duro do comunicado trouxe a possiblidade (ainda pequena) de alta de juros, mas isso dependeria da persistência da conjuntura adversa por um período mais longo que o antecipado.