Crise de confiança: o que os dados nos mostram?

Cumprindo o dever de informar os nossos clientes, construímos uma série de conteúdos relacionados à crise de confiança atual e de que forma as variáveis econômicas e os investimentos são afetados. O nosso primeiro post falou sobre o dólar, enquanto o segundo post analisou a relação entre a deterioração das contas públicas e a inflação ao consumidor.
A sustentabilidade das contas públicas dominou o noticiário econômico e trouxe deterioração da confiança dos agentes de mercado. O presente artigo traz uma constatação relevante: a crise que o país atravessa tem caráter de crise de confiança e não de fundamentos. Em suma, os dados econômicos, como inflação e atividade econômica, não estão muito diferentes frente ao histórico. A exceção é a questão fiscal, mais deteriorada do que em momentos anteriores, além da percepção de risco derivada dela.
Os dados e a comparação com a série histórica
A inflação ao consumidor brasileiro deve fechar 2024 próximo dos 4,9%. A variação exige uma postura conservadora e vigilante por parte do Banco Central por estar acima de 4,5%, teto do intervalo de tolerância do sistema de metas de inflação. Mas a serie histórica nos mostra que o patamar atual está mais de um ponto percentual abaixo da média de 6,2%, apurada desde 1999.
Para a taxa de juros, a análise mostra que os 12,25% a.a. atuais coincidem com a média verificada desde 1999. E ainda que se considere o patamar de fim de ciclo (ao redor dos 15,00% a.a.) as taxas de juros estariam dentro do intervalo que inclui a média mais ou menos um desvio padrão.
Por fim, a análise da situação fiscal, no entanto, desvenda a raiz da forte piora da confiança. O resultado primário, calculado pelo saldo da diferença entre arrecadação e gastos correntes (sem incluir as contas de juros), deve terminar 2024 perto de -0,5% do PIB. O resultado é muito inferior à média de +0,7% registrada na série histórica do indicador e se aproxima do intervalo inferior da média menos um desvio padrão. Além desta métrica, que mostra que o déficit esta em patamar historicamente alto, o resultado das contas públicas em patamar negativo ficou abaixo da meta de equilíbrio do orçamento, estabelecida pelo executivo federal.
A incerteza
Apresentamos na seção anterior um breve resumo para mostrar que a maior parte das variáveis econômicas está em linha com a média histórica dos últimos 24 anos. Além dos dados de inflação e juros, o mesmo vale para os indicadores do setor externo que ainda apresentam números sólidos. E para completar, a atividade econômica segue forte, impulsionada pelo mercado de trabalho aquecido e pelo impulso fiscal, apesar da alta no custo de capital.
Há que se ressaltar também que o arcabouço institucional atual é mais robusto que foi no passado. A comparação com 2015, quando as incertezas domésticas eram elevadas, nos mostra esse panorama. Houve evolução com avanços estruturais relevantes que trouxeram a independência do Banco Central e o Novo Arcabouço Fiscal (ainda que melhorias possam ser discutidas, em especial no segundo caso). Além disso, o país colhe frutos de melhorias na composição dos gastos públicos por conta da aprovação da Reforma da Previdência. Por fim, naquele período a crise econômica trazia forte peso de deterioração de fundamentos, com inflação em dois dígitos e a iminência de uma recessão.
A questão fiscal, por outro lado, é a grande fonte de incertezas, seja por conta do patamar atual pior do que a média histórica, seja por conta das expectativas. A turbulência que estamos passando, é, portanto, uma crise com origem principalmente em confiança e não em fundamentos deteriorados de maneira generalizada. O indicador de incerteza da economia, calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostrou que o dado de dezembro de 2024 reflete esse cenário. O resultado é o pior para o mês desde 2021 quando atravessávamos a pandemia de Covid-19.
Além deste momento, ele só foi superado em 3 outros períodos na série histórica que começou em 2000: eleições 2002, Crise do Subprime e Crise 2014/15.
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