IPCA março 2025 | Primeiras Impressões: Inflação ao consumidor acelera e ultrapassa os 5,0% no acumulado em 12 meses até fevereiro

Por Marcela Kawauti – Economista-Chefe da Lifetime Gestora de Recursos
A inflação ao consumidor, medida pelo IPCA, voltou a acelerar na passagem de janeiro para fevereiro. O índice acumulou alta de 1,31% no mês passado, o que, além de ser o maior patamar para o período desde 2003, representa 1,15 p.p. acima do dado de janeiro (0,16%). Apesar disso, o resultado se mostrou em linha com as expectativas de mercado. O principal contribuinte para este desempenho foi a energia elétrica residencial, cujo avanço de 16,80% no mês representou, isoladamente, 0,56 p.p. no índice cheio, o que foi motivado pelo fim do bônus de Itaipú. Ainda assim, excluído esse item, o IPCA do mês teria caminhado para 0,75%. Destaques de alta também foram registrados no grupo educação – sazonalmente pressionados pelo aumento das mensalidades escolares – e dos preços de combustíveis – puxados pelo reajuste do ICMS e do aumento do etanol adicionado à gasolina.
Analisando períodos mais longos, além dos subgrupos, os núcleos também mostram pressão sobre os preços. O índice acumulado em 12 meses acelerou de 4,56% para 5,06%, se afastando ainda mais do teto da meta de 4,50%. Os preços de serviços livres (que não incluem energia elétrica) desaceleraram de 5,57% para 5,32% no acumulado em 12 meses, ainda pressionados pela inflação de demanda. Os preços de bens industriais, impactados pelo repasse defasado da alta do dólar no final do ano passado, registraram alta de 3,15% nesta base de comparação, ante 2,96% no mês anterior. Por fim, houve moderação no grupo alimentação no domicílio, que passou de 7,44% para 7,09%, mas ainda em patamar elevado.
A inflação ao consumidor em tendência de alta, apesar da moderação da atividade verificada ao final do ano passado, indica viés de cautela nas próximas decisões de política monetária. O mercado de trabalho aquecido, o repasse defasado da desvalorização do real, as incertezas em relação à política fiscal expansionista e a desancoragem de expectativas colocam pressão altista no cenário futuro do IPCA e argumentam a favor de novas altas na taxa Selic ao longo do primeiro semestre de 2025.