Os assuntos mais relevantes para 2025: Desafios e Oportunidades

Findo 2024, o início de um novo ano nos leva a analisar o que nos espera para os próximos 12 meses. No campo das finanças e dos investimentos, esse exercício é muito relevante, seja para realizar ajustes nas carteiras, seja para trazer segurança em relação às possíveis oscilações de mercado.
A Lifetime fez esse exercício e a partir dele elencamos os principais assuntos de interesse para 2025. A seguir listamos essas questões e identificamos os desafios e oportunidades referentes a cada um deles. Por fim, destacamos os principais impactos deste cenário para os investimentos.
Cenário doméstico: desafios e oportunidades
- Atividade econômica
O Brasil deve crescer cerca de 2,0% em 2025. Apesar da desaceleração em relação ao avanço de 3,5% esperados para 2024, ainda pode ser considerado um patamar relevante por conta da base elevada: o avanço da atividade no pós-pandemia (entre 2021 e 2024) já soma 15%.
A desaceleração deve ser mais intensa a partir do segundo semestre do ano, uma vez que esse será o período quando o impacto da alta dos juros, iniciada em setembro de 2024, será sentido na economia — em especial na indústria e no comércio. O mercado de trabalho aquecido e o crescimento da agricultura devem funcionar como amortecedores neste cenário. Ainda que em moderação, o crescimento da atividade deve seguir como fonte de pressão relevante sobre a inflação de demanda.
- Inflação corrente e expectativas
Além da força da atividade, há fatores importantes de pressão sobre a inflação doméstica. Mais especificamente, o repasse do câmbio que já começou a ser sentido nos preços dos alimentos in natura (em especial os ligados às commodities internacionais) e ainda deve impactar outros preços como produtos farmacêuticos, vestuário e bens industriais em geral.
A conjuntura desafiadora e os riscos altistas para inflação têm se refletido na alta das expectativas de inflação. As projeções do IPCA para 2025 estão ao redor de 5,50% e, para 2026, em 4,3%, uma indicação de que o Banco Central precisará manter as taxas de juros em patamar contracionista para impedir a deterioração adicional do cenário.
- Nova diretoria do Banco Central
A inflação corrente acima da meta e a deterioração das expectativas exigem uma postura contracionista por parte do Banco Central. A autoridade monetária, na primeira reunião do ano adicionou 100 pontos base à Selic e levou os juros básicos de 12,25% para 13,25% a.a. O movimento foi realizado na primeira reunião sob a liderança de Gabriel Galípolo e com 9 dos 11 votantes indicados pelo atual governo.
A alta na Selic e a comunicação que acompanhou a decisão indicam continuidade do viés contracionista iniciado pelo mandatário anterior (Roberto Campos Neto). A manutenção do tom conservador é importante para reforçar o compromisso do Banco Central em trazer a inflação em direção à meta, em especial no momento de crise de confiança que o Brasil atravessa.
- Novo sistema de metas de inflação
Neste cenário, a comunicação do Banco Central ganha especial importância. A partir de 2025, tivemos a mudança na apuração das metas de inflação. O cômputo será feito ao longo do ano e não apenas em dezembro. Além disso, o não cumprimento será considerado quando o IPCA ficar por 6 meses acima do teto de 4,5%.
Por um lado, a nova regra traz maior espaço para acomodação de choques temporários sobre os preços ao consumidor. Por outro, há dúvidas sobre como a nova apuração afetará a função de reação do Copom. A autoridade precisará reforçar a comunicação neste momento de transição.
- Evolução das contas públicas
Enquanto a credibilidade da autoridade monetária tem se fortalecido com o reforço do compromisso do Banco Central com a estabilidade monetária, os riscos fiscais ainda não se dissiparam. Ainda há incertezas importantes em relação ao ajuste das contas públicas e a trajetória de piora da dívida pública.
Ao longo de 2025, se houver a manutenção do atual grau de incertezas nesse quesito, os preços dos ativos têm pouco espaço para melhora. No entanto, em um ambiente em que não são tomadas medidas que tragam piora relevante para a dinâmica fiscal, é possível vislumbrarmos uma recuperação importante. De todo modo, é bastante provável que seguiremos sob um regime de volatilidade elevado.
- COP 30
Em novembro de 2025, a cidade de Belém, no estado do Pará, receberá a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30). O encontro juntará líderes mundiais, cientistas, ONGs e a sociedade civil para discutir ações de sustentabilidade.
O evento trará aberturas importantes para o Brasil. Além da atração de participantes e turistas durante os dias da conferência, há oportunidades para que o país paute as discussões sobre assuntos como energias renováveis, biocombustíveis e agricultura de baixo carbono, além de reforçar acordos bilaterais. Há especial relevância nesse assunto em momentos que os discursos de fragmentação geopolítica têm ganhado força ao redor do mundo.
Quais os impactos desse cenário sobre os preços de ativos e os investimentos?
Renda Variável: A atividade econômica aquecida deve ser um fator positivo para o resultado das empresas, compensando (ao menos em parte) a taxa de juros mais elevada.
Renda Fixa: As curvas de juros devem ficar pressionadas enquanto não houver mudança significativa no cenário. Vale destacar, no entanto, que o preço atual pode ser considerado uma oportunidade para o médio prazo, uma vez que poucas vezes vimos taxas de retorno acima de IPCA+7,0% por tanto tempo. Mesmo os títulos prefixados se mostram atrativos para horizontes mais longos de investimento.
O mercado acompanhará de perto a nova diretoria do Copom e qualquer sinalização de abandono do objetivo de convergência da inflação poderá trazer mais volatilidade para o mercado de juros, o que também pode ser uma oportunidade.
Além disso, assim como no ano passado, o cenário fiscal será uma fonte de incerteza com impacto elevado no mercado. Caso a trajetória da dívida caminhe para a estabilidade, mesmo que em patamar mais elevado, a percepção de risco Brasil pode reduzir, levando a uma valorização dos ativos locais e diminuindo os retornos oferecidos, em especial nos títulos públicos. No entanto, o contrário também é verdade: caso os números piorem, devem agravar a crise de confiança.
Cenário externo: desafios e oportunidades
- Tensões Geopolíticas
Há conflitos relevantes em andamento no Oriente Médio e no Leste Europeu. Embora o primeiro tenha moderado por conta do cessar fogo iniciado em janeiro, ainda há preocupação quando o período acordado se encerrar no início de março. A intensificação das tensões pode fortalecer o dólar (fuga para segurança) e impactar os preços de commodities.
- Primeiro ano do mandato de Donald Trump
O governo de Donald Trump começou em velocidade acelerada. Além da assinatura da implantação de várias medidas no dia da posse – relacionadas à deportação de imigrantes ilegais e reforço do discurso protecionista -, menos de duas semanas depois o novo presidente americano determinou a implantação de tarifas sobre produtos importados da China, México e Canadá. Ainda que parte das taxas sobre produtos internacionais tenham sido retiradas em seguida, as medidas indicam maior incerteza no comércio internacional.
Além disso, boa parte das medidas prometidas por Trump durante a campanha e endereçadas nesses primeiros dias tem caráter inflacionário, seja por meio de desequilíbrios no mercado de trabalho, seja por conta de aumento de custo de insumos e produtos finais. Nesse cenário, a expectativa é de que o Banco Central americano tenha pouco espaço para cortes de juros em 2025.
- Atividade e mercado de trabalho nos Estados Unidos
A atividade econômica nos Estados Unidos vem mostrando resiliência surpreendente, apesar dos juros elevados ao longo de todo esse ciclo. Em especial, o mercado de trabalho aquecido traz pressões importantes sobre os salários e a demanda doméstica, com efeito sobre os índices de preços.
Os dados de emprego devem, portanto, se manter no radar dos analistas de mercado e da autoridade monetária americana. A evolução dos números será importante para endereçar os riscos prospectivos para a inflação ao consumidor e a continuidade e extensão do ciclo de flexibilização dos juros.
- Queda de juros nas economias avançadas
Enquanto o Banco Central americano começou o ano com uma pausa no ciclo de flexibilização, mantendo o FED Funds no intervalo entre 4,25% e 4,50%, o Banco Central Europeu, em seu encontro de janeiro, manteve o ciclo de queda de juros e levou as taxas referenciais de 3,00% para 2,75%.
Ainda que os bancos centrais das economias avançadas estejam, em sua maioria, promovendo um ciclo de queda nas taxas de juros, a velocidade da flexibilização tem sido bem diferente. A evolução da inflação e da atividade nessas regiões serão importantes para determinar os rumos das taxas de juros. Além disso, o diferencial de taxas entre as regiões pode ajudar a manter a moeda americana fortalecida.
Quais os impactos desse cenário sobre os preços de ativos e os investimentos?
Os conflitos armados e as tensões comerciais têm impacto importante sobre a aversão a risco e a busca por segurança. Uma escalada das tensões diplomáticas pode levar a um aumento de fluxo de demanda por dólares, valorizando a moeda americana e elevando os juros das treasuries.
Por outro lado, o receio sobre a atuação do presidente recém-empossado nos Estados Unidos pode levar à redução das tensões nas regiões conflitantes. Com relação às demais pautas prometidas por Trump, a expectativa é de continuidade da pressão inflacionária, o que se traduz em manutenção juros no patamar elevado atual por bastante tempo.
Vale ressaltar, no entanto, que a pauta desenvolvimentista de Trump tende a gerar impacto positivo sobre as empresas. No entanto, a tarifação sobre China e outros parceiros comerciais pode levar a uma redução na importação de partes e componentes, desacelerando a produção americana e consequentemente a atividade econômica.
——
Na Lifetime acompanhamos diariamente a evolução do cenário econômico e os impactos sobre os preços de ativos. Nossos especialistas estão prontos para oferecer a melhor alocação de acordo com cada perfil de riscos, com a indicação de produtos e serviços com boas perspectivas de rentabilidade e proteção para o patrimônio.