Payroll | Primeiras Impressões: Desaceleração do mercado de trabalho americano não foi suficiente para dissipar os riscos inflacionários
Por Marcela Kawauti, economista-chefe da Lifetime Asset
Após uma semana de muita expectativa, a divulgação do payroll, dados do mercado de trabalho americano, não dissipou as incertezas em relação à evolução da atividade econômica e dos preços ao consumidor.
Por um lado, os números de abertura de novas vagas de emprego vieram aquém do esperado. Em agosto foram criados 142 mil novos postos, abaixo dos 165 mil projetados pelos analistas. Além disso, o resultado de julho sofreu uma importante revisão para baixo de 114 mil para 89 mil. O saldo do início do 2º semestre mostrou 50 mil posições de trabalho a menos que o antecipado. Com esse resultado, a média mensal de novas vagas em 2024 ficou em 184 mil, menor que os 251 mil do ano anterior e abaixo da média de 190 mil registrada no período pré-pandemia (entre 2015 e 2019). As informações corroboram, portanto, o diagnóstico de desaceleração da atividade americana. Ademais, a taxa de desemprego recuou levemente de 4,3% em julho para 4,2% em agosto, o que pode ajudar a afastar o temor de recessão.
Por outro lado, o desaquecimento do mercado de trabalho não foi suficiente para dissipar os riscos inflacionários. Os ganhos por hora em julho voltaram a acelerar e passaram de 3,6% para 3,8% voltando ao patamar de junho e interrompendo a tendência de desaceleração registrada desde fevereiro. O dado indica que a pressão de demanda sobre a inflação ao consumidor segue elevada, com especial impacto sobre os bens de serviços.
Os sinais mistos vindo do payroll americano tornam o trabalho do FED mais difícil. A autoridade monetária americana tem duplo mandato: precisa desacelerar a economia para diminuir as pressões sobre os salários e a inflação enquanto cuida para que a desaceleração do mercado de trabalho não leve a uma queda brusca de atividade. Os dados não devem reverter as expectativas de início de normalização das taxas de juros em setembro, mas argumentam a favor de passos cautelosos nas decisões de política monetária.