Relatório Focus e a dupla desancoragem
No Brasil a agenda da semana começa com a divulgação do relatório Focus. A pesquisa feita pelo Banco Central do Brasil traz os resultados de modelos de analistas para as principais variáveis econômicas: atividade, inflação, política fiscal, juros e câmbio.
Desde o primeiro semestre, o relatório reflete as incertezas em relação ao futuro da política econômica brasileira e o documento desta segunda-feira não foi diferente. A chamada dupla desancoragem de expectativas indica dúvidas em relação ao cumprimento da meta de inflação e fiscal.
Do lado do IPCA, a piora nas projeções levou o dado de 2024 de 4,20% para 4,22% na última divulgação. A deterioração ao longo deste ano já adicionou cerca de 0,5 p.p. à expectativa, distanciando o número projetado da meta de 3,0% estabelecida pela autoridade monetária. Para 2025 também houve piora e o dado se aproximou dos 4,0%. A perspectiva para o período seguinte está estável em 3,6%, também acima do objetivo almejado pelo BC.
Vale ressaltar que o primeiro semestre de 2026 é o chamado horizonte de previsibilidade da autoridade monetária, ou seja, o momento em que as decisões de juros tomadas agora têm pleno efeito sobre a economia e a inflação. Os resultados indicam que não há convergência à meta nem neste ano nem nos próximos.
Do lado das contas públicas, há uma constância de expectativas, mas num patamar que indica que o arcabouço fiscal não será cumprido. O mercado espera que o déficit primário, atualmente em -2,4%, chegue a -0,6% ao final deste ano, seguido por uma melhora discreta para -0,3% em 2027. Os números são piores do que o planejado nas regras aprovadas no ano passado: equilíbrio do orçamento público em 2024 e melhora até um superávit de 0,5% do PIB em 2027.
A persistência da inflação acima do desejado e o orçamento público desbalanceado tem reflexo importante na curva de juros. A Selic foi revista para cima em 2025. Após manutenção da taxa básica em 10,5% esse ano, as projeções indicam uma queda para 10,0%, maior do que os 9,75% esperados na semana anterior.