Tensões políticas na Venezuela e os impactos sobre a economia brasileira
No último domingo, dia 28 de julho, os venezuelanos votaram para escolher o presidente que comandará o país pelos próximos 6 anos. Na madrugada seguinte o Conselho Nacional Eleitoral, órgão que regulamenta e fiscaliza as eleições no país, declarou a vitória de Nicolás Maduro, que ocupa a cadeira desde 2013 quando assumiu após a morte de Hugo Chaves.
O resultado desencadeou denúncias de fraude por parte dos candidatos da oposição, protestos da população, contestações e pedidos de informação de parte da comunidade internacional. Os desdobramentos das tensões políticas terão implicações importantes como veremos a seguir:
1. A importância econômica da Venezuela
A Venezuela vive uma crise econômica desde o início dos anos 2010. A forte dependência do petróleo fez com que a desvalorização da commodity a partir de 2014 causasse estragos sobre a atividade com queda nas exportações e na arrecadação de impostos. A situação se agravou com o aumento da participação do estado na economia, rompimento de relações diplomáticas com os Estados Unidos e crise de abastecimento de produtos básicos. O resultado foi o recuo da atividade econômica, crescimento da pobreza extrema e aceleração dos preços ao consumidor. O país, cuja economia chegou a representar 7,0% do PIB da América Latina em 2008, vem perdendo importância e sua participação na região foi de apenas 1,50% em 2023.
Com relação à parceria comercial com o Brasil a relevância da Venezuela também diminuiu. Em 2007, a Venezuela era o 6º maior parceiro comercial do Brasil, patamar que caiu para 44º em 2022. Atualmente, apenas 0,1% das compras estrangeiras feitas pelo Brasil vêm da Venezuela. No caso das exportações, apenas 0,5% do total exportado pelo Brasil é direcionado ao país.
2. A escalada das tensões e seus impactos
O aumento da incerteza política na Venezuela certamente terá impactos importantes. Dado que os acontecimentos são bem recentes, é possível traçar cenários, mas ainda é cedo para cravar a extensão dos danos.
Após a divulgação do resultado das eleições, países com alinhamento ideológico ao governo de Maduro, como China, Rússia e Cuba divulgaram nota reconhecendo a reeleição do atual presidente. Por outro lado, houve contestação de diversas nações, entre eles importantes pares latino-americanos como Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Peru, Paraguai e Uruguai. A mesma posição foi tomada por economias avançadas como Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido. Potencializando a postura de afastamento internacional a Venezuela expulsou diplomatas de 7 países que trouxeram dúvidas em relação à lisura das eleições.
Ainda não há um posicionamento oficial do governo brasileiro. Houve apenas a divulgação de uma nota com tom cauteloso e pedido de mais informações que comprovem a transparência e credibilidade do pleito. O protagonismo da política externa do Itamarati como maior país da região será testado na medida em que o presidente se depara com a escolha entre minimizar as denúncias de fraude na eleição e declarar apoio ao atual governo venezuelano ou se juntar à maior parte da comunidade internacional e reconhecer a possibilidade de golpe na reeleição de Maduro. Além disso, a postura do chefe do executivo brasileiro pode ter consequências políticas internas como o enfraquecimento da base do governo e a sua popularidade em pleno ano eleitoral.
Por fim, a escalada das tensões e de protestos violentos enfraquece o histórico de estabilidade da América Latina, região tradicionalmente pacífica com potencial impacto sobre atração de capital e investimentos estrangeiros para a Venezuela, mas também para países que tem proximidade geográfica da nação afetada. Além disso, haverá necessidade de aumento de gastos e esforços de países vizinhos para proteção e contenção de violência das fronteiras e uma possível piora da crise humanitária causada pelo aumento de refugiados.