COPOM Setembro | Aquecimento para a reunião do COPOM: Pressão da atividade sobre a inflação e a desancoragem de expectativas devem levar à retomada do ciclo de elevação de juros
Por Marcela Kawauti, economista-chefe da Lifetime Asset Management
- Expectativa
O processo desinflacionário entre 2022 e 2023 levou o IPCA do pico de 12% entre abril e junho de 2022 para a meta no período de um ano, mas a partir de meados do ano passado, houve um repique do índice que se acomodou desde então próximo do teto da meta (4,5%), acima, portanto, do patamar desejado. Além da resistência da inflação corrente, o aumento dos riscos ao cenário prospectivo e o compromisso com a convergência à meta exigem uma postura vigilante da autoridade monetária. A pressão de demanda sobre os preços tem sido fomentada pela força da atividade econômica, em especial o mercado de trabalho aquecido, e os impulsos fiscais. A isso se somam a desancoragem das expectativas, o ambiente externo desafiador e a valorização da moeda americana que se juntam ao rol de preocupações do colegiado.As incertezas relacionadas ao cenário de inflação levaram a uma revisão importante das expectativas ao longo do último mês. A probabilidade de manutenção de juros era de 68% no início de agosto e diminuiu para 11% até o dia 10 de setembro. No mesmo período, a chance de a retomada do ciclo de alta, em 25 pontos base, passou de 25% para 77%. - Evolução dos Dados
O dado mais recente do IPCA mostrou variação de 4,24%, no acumulado em 12 meses até agosto. Ainda que o número tenha desacelerado em relação aos 4,50% do mês anterior, a evolução dos índices de preços está acima dos 4,13% verificados nos 6 meses anteriores e próximo do teto de tolerância da meta (4,5%).
O desemprego segue em patamar historicamente baixo (6,8% em julho, abaixo do dado de junho e dos 6 meses anteriores). O dinamismo na atividade provoca crescimento da massa salarial real. A soma dos rendimentos recebidos pelos trabalhadores cresceu 8,3% em maio em termos reais na comparação com o mesmo mês do ano passado.Por fim, o stress recente nos mercados e as incertezas domésticas trouxeram impacto relevante sobre o dólar. Em setembro o real brasileiro seguiu a trajetória de desvalorização e chegou a R$/USD 5,63, após fechar agosto em R$/USD 5,62 e bem acima da média de R$/USD 5,20 de boa parte do 1º semestre do ano. A possibilidade de repasse da alta da moeda americana para os preços finais no mercado local pode ser fonte importante de inflação, em especial em um cenário de demanda aquecida. - Evolução das Projeções
A piora nas projeções apuradas pela pesquisa Focus tem sido um dos principais fatores por trás da indicação de cautela nos próximos passos do Banco Central. A alta na expectativa para o IPCA tanto para este ano quanto para o próximo mostra que os analistas não acreditam em convergência ao centro da meta de 3,0%, mesmo com a expectativa de alta da Selic até o final do ano. A expectativa para o IPCA deste ano está inclusive pior do que no início de 2023, quando havia dúvidas em relação à confirmação da meta de inflação para este ano e os próximos.Em suma, a desancoragem das expectativas indica que apesar dos juros em patamar elevado, o mercado acredita em inflação ao consumidor ainda acima da meta.