Aquecimento para o FOMC: informações indicam cautela na condução da política monetária
Por Marcela Kawauti, economista-chefe da Lifetime Asset
-
Expectativa
Para a reunião do Federal Reserve (FED) que acontece na quarta-feira (12), é consenso no mercado que a decisão será de manutenção dos juros entre 5,25% e 5,50%, patamar vigente desde agosto de 2023. O foco mais uma vez será o comunicado divulgado após a decisão, que trará, além do diagnóstico do cenário de convergência lenta da inflação em direção à meta, a atualização das projeções dos membros do colegiado para os dados de emprego, atividade e preços.
O FED tem afirmado de forma recorrente que a queda na taxa de juros só acontecerá quando houver evidência de que a inflação caminha de forma sólida em direção à meta de 2%. A comparação das informações disponíveis na última reunião (realizada no início de maio) com as divulgações mais recentes mostra que o progresso é mais lento que o desejável.
-
Evolução dos dados
As divulgações antes da reunião de maio se referem ao mês de março. O último dado disponível de inflação se refere a abril e o dado do mercado de trabalho se refere a maio. Os dados do CPI de maio serão divulgados na manhã do dia da reunião do FED. As variações de preços são acumuladas em 12 meses.
A inflação ao consumidor desacelerou de 3,8% em março para 3,6% em abril, na medida do CPI, e ficou em 2,8% no dado do PCE. Em ambos os casos, os números ficaram abaixo da média dos últimos 6 meses, mas ainda distantes da meta de 2,0% estabelecida pelo Federal Reserve. A mesma trajetória de lenta desaceleração é vista nos núcleos, que excluem os itens mais voláteis como alimentação e energia.
Os preços no atacado, por outro lado, voltaram a acelerar entre março e abril. O PPI passou de 2,1% para 2,4%, e o núcleo avançou de 1,8% para 2,2%. Em relação à média dos 6 meses anteriores a abril, também houve aceleração. A alta veio na esteira da forte piora dos custos de frete marítimo e coloca pressão de alta sobre a inflação ao consumidor.
Do lado do mercado de trabalho, os dados mostram que o desequilíbrio entre a oferta e a demanda por trabalhadores não se dissipou. A criação de vagas de trabalho em maio foi de 272 mil em maio, acima dos 266 mil nos 6 meses anteriores, mas abaixo dos 310 mil de março que haviam sido divulgados antes da última reunião do FOMC.
Em resumo, a inflação de preços ao consumidor e o desequilíbrio no mercado de trabalho melhoraram um pouco entre as duas reuniões, mas em velocidade e intensidade muito aquém da necessária para o início de normalização dos FED funds. Na outra direção, os preços ao produtor pioraram. A evolução é consistente com a manutenção das taxas em patamar elevado em um longo período. De acordo com a apuração da Bloomberg, a comunicação dos documentos oficiais do FED e das falas dos membros do colegiado mostraram um tom ainda mais agressivo, que pende mais para o aperto monetário do que para a normalização dos juros.