Tom mais duro na ata do Copom reforça a necessidade de manutenção da Selic em patamar contracionista
Por Marcela Kawauti, economista-chefe da Lifetime Asset
A Ata que detalhou a discussão da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) adicionou tom de preocupação às comunicações da autoridade monetária. Com relação aos dados correntes, os membros do colegiado destacaram que o IPCA segue dentro do intervalo do sistema de metas, mas que os núcleos seguem acima do teto, com especial cautela em relação aos preços de serviços. Além disso, os bens industriais e a inflação em domicílio voltaram ao terreno positivo e têm contribuído menos para o processo de desinflação.
Olhando para o cenário prospectivo dos índices de preços, o documento destacou a recorrência de surpresas positivas na atividade econômica, sustentadas pelo mercado de trabalho e estímulo fiscal, que impulsionam a demanda. Também é importante a persistência da inflação nas principais economias avançadas e a manutenção de juros em patamar elevado nos Estados Unidos.
Um destaque relevante foi a elevação da estimativa do juro neutro de 4,50% para 4,75% ao ano por conta do “esmorecimento no esforço das reformas estruturais e fiscais, aumento do crédito direcionado e incertezas em relação à estabilização da dívida pública”. A preocupação do colegiado com a credibilidade da política fiscal tem se intensificado desde o início do ano, mas é a primeira vez que ela se traduz em uma variável quantitativa. O aumento da taxa de equilíbrio da economia significa que é necessário um esforço ainda maior da política monetária para trazer a inflação à meta e reancorar as expectativas. As indicações trazidas pela Ata reforçam, portanto, o cenário em que a taxa Selic precisará ser mantida em patamar contracionista pelo menos até o final de 2024.