Aquecimento para o Copom: Preocupação com riscos à inflação futura indicam fim de ciclo

Por Marcela Kawauti, economista-chefe da Lifetime Asset
Expectativa para o Copom
Pela primeira vez desde o início do ciclo de queda de juros em meados do ano passado, não há consenso em relação à decisão do Banco Central que será divulgada na quarta-feira (19). A probabilidade de manutenção da Selic em 10,50% é de mais de 90%. A aposta alternativa (e menos plausível) seria um corte de 0,25 pontos percentuais, repetindo o passo da última reunião de maio.
Em ambos os casos, os analistas concordam que não há espaço adicional para flexibilização no 2º semestre do ano. O aumento dos riscos ao cenário prospectivo da inflação e o firme compromisso com a convergência à meta têm dado o tom dos discursos dos membros da autoridade monetária. O lento processo desinflacionário, a resistência dos preços de serviços e a piora nas expectativas para o IPCA se juntam aos recentes desenvolvimentos desfavoráveis de política fiscal. Além disso, o ambiente externo desfavorável e a valorização da moeda americana se juntam ao rol de preocupações do colegiado.
Evolução dos dados
As divulgações antes da reunião de maio se referem ao mês de abril, com exceção do dólar, que se refere ao dia anterior à reunião. O último dado disponível de inflação e mercado de trabalho se refere a abril.
A preocupação do Banco Central acontece apesar da inflação corrente, e não por causa dela. O dado mais recente do IPCA mostra variação de 3,93% em 12 meses, um pouco acima do dado disponível no Copom de maio (3,77%), mas abaixo dos 4,32% nos 6 meses anteriores.
Variáveis que colocam pressão de médio prazo sobre a demanda, por outro lado, avançaram nesse período, com especial destaque para os dados do mercado de trabalho. O desemprego segue em patamar historicamente baixo (7,50%, abaixo do dado conhecido em maio e dos 6 meses anteriores). O dinamismo na atividade provoca aceleração da massa salarial. A soma dos rendimentos recebidos pelos trabalhadores cresceu 7,70% em abril em termos reais na comparação com o mesmo mês do ano passado. A variação é maior do que os demais períodos.
Por fim, o stress recente nos mercados trouxe impacto relevante sobre o dólar. A possibilidade de repasse da alta da moeda americana para os preços finais pode ser fonte importante de inflação, em especial em um cenário de demanda aquecida. Entre maio e junho, o real brasileiro se desvalorizou de R$/USD 5,06 para acima de R$/USD 5,40.
Evolução das projeções
A piora nas projeções apuradas pela pesquisa Focus têm sido um dos principais fatores por trás da cautela por parte do Banco Central. A alta na expectativa para o IPCA até 2026 mostra que os analistas não acreditam em convergência ao centro da meta de 3,0%, em que pese o aumento nas taxas de juros esperadas. Em suma, o relatório indica que, apesar dos juros em patamar elevado, a inflação ao consumidor deve seguir perto do teto da meta.