Aumento dos riscos levou a votação unânime pela manutenção da Selic em 10,5%

Por Marcela Kawauti, Economista-chefe da Lifetime Asset
O Copom decidiu pela manutenção dos juros em 10,5% ao ano, em linha com a expectativa majoritária dos analistas. Além da sustentação do patamar da Selic, a unanimidade dos membros do colegiado também chamou atenção. O comunicado que acompanhou o resultado indicou o fim do ciclo de cortes de juros e a convergência de votos sugere comprometimento da diretoria atual em trazer a inflação de volta à meta e com a reancoragem de expectativas.
As preocupações do colegiado surgem apesar da inflação corrente, e não por causa dela. O comunicado ressaltou a trajetória de desinflação do IPCA, mas citou também as medidas de núcleo acima da meta. Além disso, mencionou fatores de pressão ao cenário prospectivo de variação de preços, a saber, dinamismo do mercado de trabalho, dúvidas a respeito do compromisso fiscal, desancoragem de expectativas e conjuntura externa desafiadora.
As simulações apresentadas pelo Banco Central reforçam o cenário desafiador. O resultado dos modelos indica inflação em 4,0% neste ano. Para 2025, o IPCA ficaria em 3,6% no cenário de referência (que usa como premissa a queda de juros para 9,5% no ano que vem trazido pela pesquisa Focus) e para 3,1% no cenário alternativo (Selic estável). Os cálculos sugerem, portanto, que a manutenção dos juros no atual patamar por um longo período é necessária para trazer os índice de preços de volta ao centro da meta. Corroborando essa indicação, o comunicado reafirmou que o Copom se manterá vigilante e que ajustes na taxa serão ditados pelo firme compromisso de convergência de inflação à meta.