Sem unanimidade nos votos, membros do Copom convergem na preocupação com a inflação
Por Marcela Kawauti, economista-chefe da Lifetime Asset
Na reunião de 8 de maio, o Banco Central decidiu pela queda de juros de 10,75% para 10,50%, diminuindo o passo em relação aos cortes de 50 pontos base que vigoravam desde agosto do ano passado. A ata da reunião intensificou o tom duro já apresentado no comunicado da semana passada e trouxe a piora no balanço de riscos como justificativa para a decisão mais conservadora.
De acordo com o colegiado, o cenário externo está mais adverso. A resistência da inflação americana com repique dos índices de preços ao consumidor e o adiamento do ciclo de cortes de juros pelo FOMC exigem maior cautela da condução da política monetária local. No ambiente doméstico, o comitê reiterou a preocupação com o dinamismo do mercado de trabalho brasileiro e a resiliência da atividade econômica. Além disso, os participantes observaram um repique no mercado de crédito, ajudado pelas recentes quedas de juros, o que ajuda a manter a demanda aquecida.
Houve aumento significativo das preocupações do comitê em relação à política fiscal e às expectativas de inflação. Em relação ao primeiro ponto, o Copom ressaltou que houve um aumento de risco e de percepção de piora após os recentes anúncios que colocaram metas mais brandas de resultado primário a partir do próximo ano, indicando mais fraqueza do compromisso com o ajuste das contas públicas. Com relação às expectativas, elas já vinham desancoradas em patamar estável desde a confirmação da meta de 3,0% em meados de 2023, mas se elevaram a partir da reunião de março. O comitê ressaltou que a reancoragem das expectativas para próximo da meta é elemento crucial para o controle da inflação.
A ata justificou também a divergência de votos: cinco membros haviam votado por queda de 50 bps e quatro por corte de 25 bps. O documento ressaltou que é unânime a preocupação com os riscos à trajetória de inflação, o que justificou uma política monetária mais contracionista e a decisão mais cautelosa. Além disso, todos compartilham com o “firme compromisso de atingimento da meta e de reancoragem de expectativas”. A dissidência ocorreu, no entanto, porque 4 membros prefeririam seguir a indicação (forward guidance) dada na reunião de março de que haveria queda de 50 pontos base em maio e redução do passo em junho. Os cinco que formaram a maioria, no entanto, entenderam que a piora do cenário justificava a mudança para um ritmo mais lento de cortes.
O documento termina sem indicações futuras em relação aos próximos passos de política monetária. O Copom estará, portanto, fortemente dependente dos dados para decidir se uma nova queda será necessária e qual a sua intensidade. Essa postura mais flexível é importante e adequada para momentos de incerteza como o atual, mas por outro lado, deve gerar volatilidade maior na curva de juros até a próxima reunião em junho.