Copom: riscos ao cenário de convergência da inflação à meta levaram à diminuição no ritmo de cortes
Por Marcela Kawauti, economista da Lifetime Asset
Pela primeira vez desde o início do ciclo de queda de juros, o mercado chegou ao dia da reunião do Copom com expectativas divididas em relação à decisão. O colegiado optou por diminuir o ritmo de cortes da Selic dos 50 bps vigentes desde agosto de 2023 para 25 bps.
A Selic passou, portanto, de 10,75% para 10,50%. Apesar do placar dividido (5 diretores votaram pelo corte menor e 4 votaram por manter o ritmo), o comunicado trouxe um tom bem duro, indicando que a preocupação com a inflação é comum a todos os diretores. O aumento das incertezas em relação à evolução futura da inflação ao consumidor e o processo desinflacionário mais lento justificaram a redução do passo.
As expectativas estão desancoradas e vêm se distanciando ainda mais da meta a partir do próximo ano, horizonte relevante para as decisões do Banco Central. O mercado de trabalho está mais dinâmico que o antecipado, o que implica pressão sobre salários e demanda e, consequentemente, preços mais altos. O colegiado ressaltou também que os desenvolvimentos recentes da política fiscal, com mudança para pior na meta de superávit primário, funcionam como fator limitador à queda de juros. Por fim, o ambiente externo está mais adverso, com inflação resistente nos países avançados.
A piora dos cenários começa a se materializar nas projeções dos modelos do Copom. A expectativa de inflação passou de 3,5% para 3,8% neste ano e de 3,2% para 3,3% em 2025. O comitê não fechou a porta para novos cortes de juros, mas afirmou que ajustes futuros serão ditados pelo compromisso dos membros de manter a convergência da inflação à meta. A evolução dos dados macroeconômicos, em especial daqueles relacionados aos riscos citados pelo Copom, será fundamental para ditar os próximos passos da autoridade monetária.