Crise de confiança, apesar dos fundamentos: a desvalorização da moeda brasileira
A economia voltou ao noticiário de maneira bastante intensa (e negativa!) nos dois últimos meses de 2024. Uma análise do histórico de pesquisas feitas pelos brasileiros nas plataformas de busca da internet mostra que as palavras “dólar”, “fiscal” e “inflação” estão em alta, indicando preocupação a respeito desses assuntos.
As contas públicas têm grande destaque neste contexto e o olhar sobre o que aconteceu desde o começo do ano passado nos ajuda a entender o porquê. Em agosto de 2023, no início do atual mandato presidencial, o executivo federal propôs e sancionou o chamado” Novo Arcabouço Fiscal”, em substituição ao antigo Teto de Gastos. O conjunto de regras substituiu a previsão de estabilidade das despesas (em termos reais) por uma possibilidade de correção do orçamento acima da inflação, condicionada ao aumento de receita do ano anterior. Além disso, estabeleceu uma meta de resultado primário a ser perseguida pelo governo.
A nova âncora fiscal veio como indicação de moderação em relação às promessas de campanha expansionistas. O limite ao aumento do orçamento e o compromisso com metas de resultado primário não resolveriam de forma definitiva a questão da sustentabilidade das contas públicas, mas trariam alguma previsibilidade em relação à política fiscal.
O ano de 2024 foi o primeiro de vigência das novas regras e a expectativa era de que elas fossem cumpridas. Mas, na prática, não foi isso que aconteceu. Apesar do aumento da arrecadação, resultado da melhora na atividade e do aumento de impostos e contribuições, o déficit primário, que representa aquilo que o governo arrecada menos os seus gastos correntes, segue no campo negativo. A pesquisa Focus do Banco Central indica que o resultado primário deve terminar o ano próximo de -0,50% do PIB.
A crise atual pode ser, portanto, classificada como uma crise de confiança. E apesar da piora na questão fiscal, há fundamentos da economia brasileira que podem, em sua maioria, ser considerados saudáveis. Em 2024, o PIB deve avançar cerca de 3,5%, um crescimento importante que se soma aos 11,4% acumulados entre 2021 e 2023. A inflação, ainda que levemente acima da meta, está bem abaixo dos dois dígitos verificados no período pós pandemia. Além disso, o Banco Central tem agido de forma independente, comunicando de forma reiterada o seu compromisso em trazer a inflação para próximo da meta e a continuidade do viés contracionista após a troca de diretoria em 2025. No mais, o Brasil possui um volume bastante considerável de reservas internacionais — US$ 363 bilhões (nov/24) — e o financiamento do nosso déficit fiscal se dá em moeda local, o que reduz em parte a percepção de risco em razão da desvalorização do Real frente ao dólar.
E qual o custo das incertezas em relação à sustentabilidade da dívida pública?
Uma forma de chegar nessa resposta é estimar qual parcela da desvalorização do real corresponde às incertezas domésticas e qual parcela se refere ao ambiente externo. Entre o início de novembro e o início de dezembro, o dólar se valorizou 1,4% em relação a uma cesta de moedas de países emergentes. Em relação ao real brasileiro a valorização chega a 4,2% (mais que o dobro dos nossos pares!).
O modelo sugere que o dólar teria avançado de cerca de R$ 5,00/USD no começo do ano para R$ 5,57/USD nesse começo de dezembro considerando o ambiente externo desfavorável (tensões geopolíticas e fuga para a segurança) e queda de juros mais lenta do que o esperado nos Estados Unidos. A diferença do valor de equilíbrio (R$ 5,57/USD) e da média dessa primeira quinzena do mês (R$ 6,04/USD) vem das incertezas domésticas. Ou seja, pagamos mais ou menos R$ 0,50 por cada dólar por conta de todas as incertezas presentes no cenário doméstico.
Em meio a essa onda de incertezas, é importante que o investidor tenha calma e separe fatos e ruídos. Ainda que a crise de confiança esteja instalada, há boas oportunidades de alocação. Os papéis de renda fixa, por exemplo, vêm pagando um prêmio interessante, com taxas de carrego em patamar historicamente elevados.
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