Os impactos econômicos da tragédia climática do Rio Grande do Sul
O Rio Grande do Sul tem o 4º maior PIB entre os estados brasileiros e responde por 6,5% da riqueza produzida no país, e por isso os impactos da recente tragédia climática devem ultrapassar os limites regionais e atingir todo o Brasil. De acordo com a Defesa Civil, os temporais e as enchentes atingiram 476 municípios (95% do estado). 2,4 milhões de pessoas foram afetadas, entre deslocados, desabrigados, feridos e mortos. Um relatório da Fiergs[1] mostrou que cerca de 80% do PIB do Estado foi prejudicado pelo evento.
Dados hidrológicos divulgados pelo Governo do Estado mostraram que o nível Rio Guaíba, que atravessa a capital, chegou a 5,3 metros no dia 06 de maio. O patamar é quase 50 cm acima do registrado na última grande cheia do estado em 1941. No dado do início de junho, o nível do Rio ainda estava em 3,45 metros, muito acima do nível de alerta de 3,15 metros, indicando que ainda há muito o que se fazer até que se volte à normalidade.
Passado um pouco mais de um mês, a apuração dos danos e dos efeitos econômicos da calamidade ainda está nos seus estágios iniciais, e só poderá ser concluída quando a água baixar e os prejuízos puderem ser analisados de perto. As informações, tendências e estimativas trazidas neste documento são apenas preliminares, baseadas nas informações mais recentes.
Além disso, não há precedente na história brasileira em que se possa basear para fazer modelos e projeções. A tragédia climática de magnitude comparável foi o Furacão Katrina que se abateu sobre os estados da Louisiana, Alabama e Missisipi (no Sudeste dos Estados Unidos) em 2005. A região abrigava 12 milhões de pessoas que somavam 4,1% da população americana. Naquele momento, a tragédia resultou em quase 1 ponto percentual a menos no PIB americano e impactou a produção e os preços de petróleo e atividades turísticas na região. Os esforços de reparos e reconstrução da região custaram mais de USD 100 bilhões na época (o que equivale a $161 bilhões de dólares em valores atuais, ou R$ 830 bilhões).
OS DADOS JÁ DIVULGADOS
O primeiro indicador referente ao período de chuvas foi o IPCA-15, apurado de 15 de abril a 15 de maio. A alta da inflação na região metropolitana de Porto Alegre foi de 0,86%, muito maior do que a média nacional (+0,44%). O crescimento dos preços de alimentação ao domicílio foi quase 8 vezes maior no estado na comparação com o registrado para o país todo.
Em que pesem os dados acima da média nacional, os plenos efeitos da tragédia ainda não se refletiram no índice. O IBGE anunciou que cerca de 30% da apuração referente à região afetada foi feita de forma remota (por telefone ou internet), e que por conta da impossibilidade de coleta de alguns produtos, como hortaliças e verduras, houve imputação dos preços faltantes com base em produtos similares disponíveis. Novas divulgações serão necessárias, portanto, para entender a magnitude dos impactos sobre os preços.
A piora das expectativas do relatório Focus, que já vinha acontecendo desde abril, foi intensificada pelos eventos climáticos. Entre o fim de abril e a última divulgação de maio, a projeção para o IPCA passou de 3,73% para 3,88%, e para a alimentação no domicílio avançou de 4,30% para 5,44%. A expectativa da Lifetime é de um aumento entre 0,14 e 0,30 pontos percentuais no IPCA do ano. O efeito sobre os preços deve ser, no entanto, temporário.
Apesar do aumento da incerteza econômica e da impossibilidade de se determinar o tempo e os valores necessários para a reconstrução das áreas atingidas, algumas tendências podem ser traçadas para os principais setores da economia, conforme destacamos a seguir:
AGROPECUÁRIA
De acordo com a CONAB, o Rio Grande do Sul é o maior produtor de trigo e arroz e o segundo maior produtos de soja entre os estados brasileiros. Além disso, o estado tem o 7º maior rebanho bovino no país, respondendo por 5% da produção total de carne.
De acordo com a imprensa, a maior parte da colheita dos principais itens já foi feita (70% da soja e 80% arroz), mas boa parte pode ter sido perdida devido à inundação nos galpões de armazenamento. O plantio de trigo deve começar em junho, mas a produtividade da safra dependerá da extensão do dano ao solo inundado e do tempo e do custo necessários à sua recuperação. Além disso, o fechamento de rodovias deve servir como obstáculo para o escoamento da produção. O resultado deve ser um impacto negativo temporário sobre a inflação, em especial os preços de alimentos in natura.
INDÚSTRIA
De acordo a Fiergs, a indústria de Tabaco é o principal destaque da produção do estado, respondendo por 68,5% do total brasileiro. Também são relevantes a manufatura de Couro e Calçados (30,5% do total), Móveis (21,5%) e Máquinas e Equipamentos (20,2%). A instituição estima que cerca de 80% da produção industrial do Estado foi afetada pelas enchentes. O resultado deve ser uma queda importante na oferta desses produtos e alta temporária dos preços ao consumidor.
DEMAIS SETORES
Além dos danos gigantescos à infraestrutura e edifícios, os problemas logísticos devem afetar de forma significativa todas as cadeias econômicas do Estado. Em boa parte dos casos, não será apenas necessário realizar o trabalho de desobstrução, mas de reconstrução de estradas, pontes, vias férreas e até mesmo o principal aeroporto do Estado está com suas instalações comprometidas. Além de afetar o escoamento da produção e da agropecuária, a interrupção nos transportes tem efeitos negativos sobre o turismo na região.
As primeiras medidas de ajuda governamental com vistas a auxiliar nos esforços para reconstrução começaram a ser divulgadas. O Governo Federal anunciou R$ 62,5 bilhões entre liberação de recursos extras diretamente às famílias, antecipação de programas de transferência de renda, liberação de emendas e suspensão de cobrança de pagamento de financiamentos públicos. O Banco Central relaxou as exigências de capital prudencial e recolhimento de depósitos compulsórios para as operações bancárias no Estado. Além disso as operações de crédito em atraso a clientes gaúchos não precisarão ser registradas no balanço das instituições financeiras como ativos problemáticos, o que exigiria aumento de provisão.
As medidas com foco em consumo e destravamento do mercado de crédito na região serão importantes para reaquecer a atividade econômica, passado o pior momento. O comércio de itens ligados a construção civil e de móveis e eletrodomésticos, pode ser favorecido pelos esforços de retomada da infraestrutura e dos edifícios afetados pelas enchentes.
Por fim, deve haver impacto negativo nas exportações brasileiras, em especial dos produtos de agronegócio e indústria mais importantes para a economia do Estado. De acordo com o MDIC, o estado é o sexto maior exportador do país e responde por 6,6% de todas as vendas externas.
A Lifetime se solidariza com as vítimas dessa catástrofe, e estamos em contato com nossos sócios do escritório de Porto Alegre para entender as necessidades da população do Estado neste momento tão delicado.
Lembramos que você pode ajudar doando qualquer valor para o SOS Rio Grande do Sul. Os recursos serão destinados a uma conta monitorada por um comitê formado por entidades públicas e privadas. A doação é segura, e a movimentação dos recursos arrecadados pela iniciativa passará por auditoria e fiscalização do poder público.
Chave pix para doação:
CNPJ: 92.958.800/0001-38 |Instituição: Banrisul
[1] Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul