A Selic parou de cair: onde investir a partir de agora?

Na reunião da última quarta-feira (19), a diretoria do Banco Central optou pelo fim do ciclo de cortes da Selic, de forma unânime. A taxa de juros básica foi mantida em 10,50% ao ano, 325 pontos base abaixo do pico de 13,75% que durou até meados do ano passado.
A estabilidade da Selic acontece frente à cautela dos integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) com o risco ao cenário prospectivo para a inflação. O lento processo desinflacionário, a resistência dos preços de serviços e a piora nas expectativas para o IPCA se juntam aos recentes desenvolvimentos desfavoráveis de política fiscal. Além disso, o ambiente externo desfavorável e a valorização da moeda americana se juntam ao rol de preocupações do colegiado. As indicações são de que o novo patamar deve ser mantido por bastante tempo, o que leva os investidores a se perguntarem se há alguma alteração necessária para buscar rentabilidade nas carteiras.
Um primeiro ponto relevante remete a uma máxima do mundo dos investimentos: evite colocar “todos os ovos na mesma cesta”. A diversificação é sempre necessária, mas em cenário turbulento como o atual, é ainda mais importante para mitigar o risco e aproveitar oportunidades em cada uma das diferentes classes de ativos. Cada estratégia tem espaço em uma carteira de investimentos equilibrada, desde que sejam respeitados o perfil e o objetivo de cada cliente. É necessário clareza dos riscos e das oportunidades.
A renda fixa ainda vale a pena?
Apesar de a Selic ser a principal referência para o rendimento dos papéis de renda fixa, o ciclo de queda recente não afasta a atratividade desta classe. Os juros chegaram a 10,50%, patamar ainda considerado elevado. A taxa terminal atual é maior do que 3 dos 5 ciclos mais recentes (e é bastante próximo do que foi visto em 2007/2008, antes da crise do subprime). Excluímos desta análise o período atípico da pandemia. Os títulos e fundos atrelados ao CDI ainda oferecem, portanto, retornos interessantes.
Além disso, conforme apontamos, o risco de elevação da inflação é a base da preocupação do Copom. Investimentos com proteção à variação de preços, como os títulos indexados ao IPCA, cumprem o papel de proteção ao patrimônio. Por fim, caso haja uma queda não antecipada da atividade, a renda fixa pode ajudar, uma vez que oferece retornos interessantes e tem correlação baixa com o desempenho da economia.
As dúvidas em relação ao ajuste fiscal no Brasil e à nova diretoria do Banco Central pesam sobre o prêmio de risco oferecido pelos papéis emitidos pelo governo federal. O recente stress dos mercados levou as taxas reais da NTN-B para acima de 6%, patamar bastante elevado em comparação com o histórico. Em que pese o aumento das incertezas, há uma boa relação risco-retorno. Em outros momentos em que o retorno real estava nesse patamar, o risco Brasil era muito maior. Os preços dos títulos, no entanto, podem oscilar por conta da marcação a mercado, assim como os títulos prefixados que abordaremos a seguir.
O prêmio de risco mais alto também proporciona um bom ponto de entrada para os papéis pré-fixados, com rendimentos nominais acima de 12% para alguns vencimentos. A alocação nesses ativos deve ser cuidadosa e levar em conta o prazo de vencimento e a possibilidade de oscilações na carteira.
A renda fixa muitas vezes é associada aos papéis emitidos pelo governo federal. Mas essa classe de ativos também apresenta uma variedade de produtos interessantes emitidos tanto por empresas privadas quanto instituições financeiras, que podem trazer bons rendimentos e proteção a incertezas do cenário. Esses instrumentos podem ser, por exemplo, certificados de recebíveis (CRIs e CRAs), debêntures de emissores com bom risco de crédito, além das Letras Financeiras e CDBs. É necessária, no entanto, uma análise do crédito de cada empresa.
Vale a pena investir em renda variável?
Ciclos de queda de juros são, em geral, momentos de boa rentabilidade para ativos de renda variável. Com a menor atratividade dos ativos de renda fixa, os investidores procuram aumentar os ganhos migrando para alternativas mais arriscadas, como a renda variável. A maior demanda impulsiona os preços das ações e a rentabilidade dos acionistas para cima. Além disso, a queda do custo de capital aumenta o valor das empresas, por meio da redução de despesa com pagamentos de dívida e melhora a taxa de desconto dos fluxos de caixa futuros.
Além disso, a atividade econômica aquecida pode beneficiar a bolsa brasileira. Em 2024, o crescimento do PIB brasileiro deve ser mais bem distribuído que no ano anterior, com espaço para aumento da demanda interna e valorização de setores cíclicos.