IPCA | Junho – Primeiras Impressões: desaceleração, mas acima de 4,0% na comparação anual
Por Marcela Kawauti, economista-chefe da Lifetime Asset
Os preços ao consumidor passaram de uma variação de 0,46% para 0,21% entre maio e junho, desacelerando de forma importante na comparação mensal e com resultado bem abaixo dos 0,30% esperados pelos analistas. A desaceleração veio principalmente de transportes, em especial do recuo de passagens aéreas e combustíveis. Além disso, a alta de alimentação foi menor que a antecipada, em que pesem os efeitos ainda presentes da tragédia climática no sul do país.
Apesar do recuo no dado mensal, o IPCA em 12 meses avançou de 3,93% para 4,23%, o maior resultado desde fevereiro deste ano. O resultado acumulado, olhado pelo Banco Central para auferir o cumprimento de metas, se aproximou do teto do intervalo de tolerância (4,5%). Nesta métrica, o núcleo de serviços segue acima do índice cheio (4,5%), mesmo que tenha mostrado recuo em relação ao mês anterior (5,1%). Os preços de alimentação em domicílio, com impacto relevante sobre a cesta de consumo das famílias, avançaram de 3,3% para 4,9%, também acima do dado fechado.
Em resumo, o IPCA trouxe sinais mistos com a desaceleração no dado mensal, mas pressões ainda relevantes no resultado em 12 meses. Não deve, haver, portanto, mudança na postura de cautela do Banco Central brasileiro que motivou a pausa no ciclo de corte de juros. As pressões relacionadas à credibilidade da política monetária e fiscal, à desancoragem de expectativas e o ambiente externo desafiador permanecem. Além disso, há pressões importantes que devem resultar em reaceleração do índice nas próximas divulgações, a saber: (i) autorização de cobrança extra na conta de energia elétrica (bandeira amarela) por conta do volume de chuvas abaixo da média, (ii) aumento dos preços de gasolina e gás a partir de 9 de julho, com impacto diluído entre esse mês e o próximo e (iii) repasse da desvalorização do real sobre os preços importados.