O primeiro mês de Trump na Casa Branca e os potenciais impactos das primeiras medidas

Na semana da posse de Donald Trump, produzimos um texto falando sobre as primeiras medidas do novo presidente americano. Passado um mês¹, entendemos ser importante a atualização do cenário.
Ao longo deste período, o novo líder assinou 65 ordens executivas, documentos que não precisam ser aprovados pelo Congresso e que tem força de lei. A título de comparação, os 6 presidentes anteriores assinaram, em média, 62 ordens por ano de mandato, com destaque para o recorde superior das 91 de Clinton e o recorde inferior de 41 de Biden. Os dados nos mostram que o novo mandato começou em velocidade acelerada.
As medidas assinadas por Trump em sua posse — no dia 20 de janeiro — estavam ligadas a vários assuntos, passando desde a reformulação de regras de imigração, até incentivos à produção doméstica de energia, comércio internacional e acordos internacionais. Naquele momento, no entanto, o novo mandatário havia sinalizado que a imposição de tarifas sobre produtos importados, amplamente falada durante a campanha, havia sido adiada.
Ao longo das semanas que se seguiram, no entanto, o assunto ganhou relevância e dominou o noticiário. As primeiras ações, entre o final de janeiro e o início de fevereiro tiveram como foco países específicos. Destaque para a taxação de 25% sobre produtos de origem canadense e mexicana. Os países são os principais parceiros comerciais dos Estados Unidos e têm forte dependência das exportações para aquele país. Após negociações, no entanto, a implantação das novas medidas foi adiada para o início de março.
Também a China foi afetada. Houve elevação de 10% das tarifas sobre produtos importados daquele país. A nova taxação, apesar de ainda estar sendo discutida na OMS, já entrou em vigor. Houve também retaliação por parte dos chineses que aplicaram tarifas de 10% a 15% sobre produtos americanos.
Em um segundo momento, o protecionismo americano foi focado em produtos específicos e não mais direcionados a determinados países. Em 11 de fevereiro, Trump formalizou tarifas de 25% sobre aço e alumínio, parte relevante da pauta de exportações brasileira. A entrada em vigor da nova medida, no entanto, acontecerá apenas a partir de 12 de março.
Em seguida, no dia 17 de fevereiro, o anúncio versou sobre as tarifas recíprocas. A partir de abril, os EUA passariam a cobrar sobre produtos estrangeiros o mesmo percentual cobrado pelo país de origem sobre produtos americanos. Esta medida também tem potencial de afetar o Brasil. As tarifas médias cobradas de produtos americanos são de 11%, ao passo que os americanos cobram cerca de 2% dos produtos originados no Brasil. Com a equalização, os produtos exportados pelo Brasil poderiam ter taxação extra de 9 p.ps.
Ainda não é clara a magnitude das implicações diretas do aumento das tarifas, mas as análises iniciais indicam que haverá consequências inflacionárias. Ao se depararem com maior custo de importação, as empresas americanas devem repassar parte deste aumento ao preço final, em especial num contexto de atividade econômica aquecida como o atual. O aumento da inflação ao consumidor traria menos espaço para cortes de juros pelo FED e poderia fortalecer o dólar americano.
Parte dos efeitos, no entanto, foi adiada. Houve uma valorização de 3,0% do dólar americano entre a eleição e a posse de Trump, seguida por uma desvalorização de 1,8% desde então. A maior parte das tarifas já anunciadas ainda não foi colocada em prática, o que denota como a retórica de Trump vem surtindo efeito, trazendo as lideranças das economias afetadas à mesa para negociar temas de interesse dos EUA. Além disso, as empresas estão ganhando tempo para anteciparem as importações aos preços atuais, o que reduz os impactos no curto prazo sobre a inflação. Além disso, desde janeiro, houve uma queda nas tensões geopolíticas por conta do cessar fogo entre Hamas e Israel e a retomada das discussões com a Rússia por conta da Guerra da Ucrânia.
A despeito deste vaivém, a resultante para os mercados foi de certo alívio neste início de ano. Ao afastarmos cenários mais disruptivos em relação a este início de mandato do presidente norte-americano, os analistas se voltaram para o desempenho da economia em si. Neste caso, ainda persistem as incertezas sobre como se comportará a inflação, diante do enfraquecimento lento da atividade e do mercado de trabalho nos EUA. Isso mantém as expectativas de juros em patamares mais elevados — e por um período mais prolongado — que o previsto anteriormente. Esse ambiente mantém a atratividade do mercado norte-americano, favorecendo o fortalecimento do dólar em escala global.
Estes fatores impactam também o mercado local, à exemplo do que ocorreu recentemente. Com o dólar elevado, a inflação doméstica segue pressionada, o que se traduz também na manutenção da curva de juros no patamar acima da média histórica.
Além disso, no caso do Brasil, caso as tarifas sobre aço e alumínio e a reciprocidade entrem em vigor, pode haver diminuição importante da corrente de comércio com os Estados Unidos, com impacto ampliado nas empresas do setor que atualmente tem relações comerciais com o país.
[1] As informações e os dados apresentados neste texto estão atualizados até 18 de fevereiro.