RETROSPECTIVA 2024: Adeus ao (desafiador) ano velho! E o que podemos esperar para o ano novo?
RETROSPECTIVA: No início de 2024 não imaginávamos que teríamos meses tão desafiadores pela frente. No ambiente doméstico, vivíamos o início da flexibilização da política monetária, desaceleração da inflação ao consumidor e menor percepção de risco em relação ao orçamento público, motivado pela então recente aprovação do novo arcabouço fiscal. Tudo isso levava a crer que os ativos financeiros teriam um comportamento muito mais benigno, algo que a realidade nos mostrou ser muito diferente.
Nas economias avançadas, a expectativa era que o início do ciclo de normalização de juros ocorreria ao longo do primeiro semestre. O campo diplomático, por sua vez, era cercado por apreensão em relação aos desdobramentos dos conflitos no Oriente Médio e no Leste Europeu. Para completar, havia grande ansiedade em relação à eleição presidencial americana.
À medida que nos aproximamos do fim de 2024 e início de 2025, aproveitamos para fazer um balanço dos principais acontecimentos econômicos e políticos dos últimos meses. A análise nos ajuda a entender como chegamos ao fim do ano com uma conjuntura muito diferente da que imaginávamos em janeiro e o que podemos esperar para o próximo período.
CENÁRIO DOMÉSTICO: Um novo ciclo de juros e o desafio fiscal
O ano de 2024 foi bastante positivo para a atividade econômica brasileira. A conjunção do mercado de trabalho aquecido, estímulos fiscais e aumento da concessão de crédito impulsionaram o PIB para um crescimento estimado próximo a 3,5% no período, muito acima da expectativa de janeiro, que rodava perto de 1,5%. A força da atividade ao longo do ano já é animadora, mas ganha escala quando se adiciona aos 11,4% de avanço entre 2021 e 2023. Somados todos os anos, o crescimento pós pandemia já acumula avanço acima de 14,0%.
A surpresa no campo da atividade econômica, no entanto, não veio sem consequências. Tendo em vista as limitações de oferta, a disponibilidade de renda acima do esperado culminou em desequilíbrios, causando uma pressão de demanda e elevando os preços ao consumidor. Além disso, a inflação foi impactada por eventos climáticos adversos e pela alta do câmbio. Esperávamos, em janeiro, um IPCA ao redor de 4,0% ao final de 2024, mas a deterioração do cenário levou o mercado a ajustar essa expectativa e agora o consenso aponta para 4,8%, acima do teto da meta do Banco Central (4,5%).
A alta da inflação corrente, os riscos prospectivos à aceleração de preços e a desvalorização do real brasileiro levaram o Banco Central a uma mudança importante na sua conduta frente a política monetária. No início do ano, a expectativa era de que a Selic poderia chegar em dezembro abaixo dos dois dígitos (próximo de 9%). O ciclo de afrouxamento monetário que levou a Selic de 13,75% para 10,50% entre 2023 e 2024, no entanto, foi interrompido em meados desse ano. Apenas duas reuniões depois, o Copom precisou retomar o ciclo de alta em cumprimento ao seu mandato de assegurar a estabilidade de preços. A alta da Selic deve, inclusive, continuar ao longo de 2025.
Em meio a todas essas surpresas no campo da atividade, inflação e política monetária, tivemos o risco fiscal assumindo o papel de protagonista do noticiário econômico ao longo do ano, com especial destaque para o último trimestre. Após a aprovação do novo arcabouço em 2023, a expectativa para 2024 era de que o governo federal desenhasse a trajetória para o cumprimento das metas. As definições, no entanto, não vieram. Parte do ajuste das contas públicas dependem excessivamente de fatores de curta duração, a saber, a aprovação de novos impostos e crescimento da atividade.
O aumento da incerteza em relação à sustentabilidade das contas públicas fez com que os mercados reagissem. Vale lembrar que os agentes financeiros respondem a oscilações de probabilidades frente aos possíveis cenários futuros. É isto que os preços dos ativos de risco refletem diariamente. Por isso, ao não trazer propostas que promovam um ajuste estrutural pelo lado da despesa — que cresce muito acima do PIB — os mercados entendem que a necessidade de financiamento do setor público seguirá aumentando. Dessa forma, os prêmios de risco exigidos serão, também, maiores. Por isso vimos as taxas dos títulos do Tesouro Nacional subirem sobremaneira ao longo de todo o ano. Também houve forte ajuste na moeda brasileira que se depreciou quase 20% e chega ao fim do ano próximo dos R$ 6,00/USD.
Entendemos que já há muito pessimismo incorporado aos preços atualmente, o que torna a função de reação dos agentes assimétrica. Isso significa que sinalizações positivas trazem muito espaço para melhora nos mercados. Na ponta oposta, a manutenção do status quo recente deve limitar o espaço para quedas adicionais.
CENÁRIO INTERNACIONAL: Resiliência da atividade americana e normalização lenta de juros
Nos Estados Unidos, a força da atividade em 2024 foi um destaque relevante. O mercado de trabalho desaqueceu mais lentamente que o antecipado. No acumulado de janeiro a novembro foram criadas 2,0 milhões de vagas de trabalho. O número é menor que os 2,7 milhões registrados no mesmo período de 2023, mas ainda é bastante relevante. Neste contexto, a demanda seguiu pressionando a inflação ao consumidor, que desacelerou paulatinamente: o PCE passou de 2,6% para 2,3% entre o início do ano e o dado mais recente referente a novembro.
Por conta da resistência da atividade e da inflação, o início do ciclo de normalização de juros pelo Banco Central americano foi adiado para o mês de setembro. Naquele mês, o FOMC iniciou o afrouxamento monetário com corte de 50 pontos base nos FED Funds. Na reunião seguinte, a autoridade monetária americana optou pela cautela e desacelerou o passo para 25 bps.
Também nos Estados Unidos foi destaque a eleição presidencial, o evento político mais importante do ano. Trump foi eleito como novo mandatário para o período entre 2025 e 2028 levando a um otimismo relacionado à economia doméstica e um rally nos ativos de renda variável. Há expectativa, no entanto, que parte de suas medidas possa trazer efeitos inflacionários a partir do próximo ano, o que pode diminuir ainda mais a velocidade de corte de juros pelo FOMC.
Na Europa e no Reino Unido, o crescimento da atividade foi moderado, ajudando no controle de inflação ao consumidor. O BCE (Banco Central Europeu) e o BoE (Banco Central Inglês) tiveram espaço, inclusive para iniciar o ciclo de queda de juros antes do seu par norte americano.
Na China, o esgotamento do modelo de crescimento, a crise no mercado imobiliário e o afastamento comercial dos Estados Unidos levaram à continuidade da desaceleração da economia em 2024. A expectativa é de que o PIB encerre o ano levemente abaixo da meta de 5,0% estabelecida pelo governo do país.
No campo internacional, as tensões geopolíticas tornaram o ambiente externo mais adverso. O ano começou com a guerra entre Rússia e Ucrânia (que vinha desde 2022) e o conflito entre Israel e Hamas (desde outubro de 2023). Ao longo do ano, a contenda no Oriente Médio se intensificou. Além disso, chegamos ao final do ano com mais uma fonte de tensão: o fim do regime ditatorial na Síria e as incertezas em relação a quem assumirá o poder.
10 assuntos relevantes para 2025: Desafios e oportunidades
À medida que nos aproximamos do ano novo, o elenco dos principais assuntos de interesse do período se torna cada vez mais importante. A seguir listamos essas questões e identificamos os desafios e oportunidades referentes a cada um deles. Em um momento oportuno, traremos um detalhamento de cada um desses assuntos: