A Realidade por Trás dos Números: O Relatório Art Basel e UBS 2024 e o Papel do Brasil no Mercado de Arte Global
Por Graziela Martine e Patrícia Amorim de Souza | Art Homage
O mercado de arte brasileiro está crescendo e chamando atenção no cenário internacional. O relatório “The Art Basel and UBS Survey of Global Collecting 2024” trouxe boas notícias para o Brasil, destacando o aumento na participação de colecionadores e investidores brasileiros no mercado de arte. As aquisições feitas por brasileiros no mercado primário – ou seja, compras diretamente de artistas e galerias – cresceram cerca de 35% em relação ao ano anterior. Além disso, a presença de brasileiros em feiras de arte internacionais aumentou 28%, consolidando a posição do Brasil no circuito global. Esses números refletem um interesse crescente e um engajamento significativo dos colecionadores brasileiros no setor.
Entretanto, esse crescimento impressionante representa apenas uma parte do mercado: o segmento formal e rastreável. Isso se refere às transações que podem ser acompanhadas e registradas, o que permite uma análise precisa de dados e tendências. No entanto, o mercado secundário – onde ocorrem revendas de obras entre colecionadores – é predominantemente informal e não rastreado, tanto no Brasil quanto em outras partes do mundo. Isso significa que muitas transações ocorrem de forma privada, sem registros públicos, dificultando a mensuração exata desse setor.
Nos mercados estabelecidos, como Estados Unidos, Reino Unido e China, o mercado secundário é vasto e movimenta valores multimilionários. Embora o crescimento das transações rastreáveis no Brasil seja notável, o volume negociado nesses mercados consolidados é muito superior, especialmente em transações privadas de alto valor. Para se ter uma ideia, o relatório estima que apenas cerca de 40% das transações globais do mercado de arte são formalmente registradas, enquanto o restante acontece no mercado secundário, sem visibilidade completa. Esse aspecto é característico do mercado de arte em todo o mundo, onde parte considerável do volume financeiro movimentado permanece fora dos registros.
No Brasil, assim como em outros países, a informalidade do mercado secundário significa que os dados disponíveis representam uma fração do mercado, concentrando-se principalmente no segmento primário. Dessa forma, embora o avanço brasileiro seja digno de celebração, ele deve ser interpretado à luz desse contexto. O mercado informal, que envolve negociações de obras de alto valor entre colecionadores e investidores, ainda representa uma parcela maior do setor e permanece amplamente inacessível para medições precisas.
O relatório da Art Basel e UBS 2024 nos traz uma visão valiosa sobre o papel do Brasil no mercado de arte global, mas é importante contextualizar esses dados. O mercado de arte, especialmente o secundário, possui uma natureza informal e de mensuração limitada – uma característica comum em todo o mundo. Isso não desmerece o avanço do Brasil, mas sugere que, no contexto global, o país ainda está em processo de crescimento, principalmente quando comparado a mercados mais estabelecidos, onde o segmento informal atinge cifras expressivas.
Em resumo, a posição do Brasil no mercado global de arte é um reflexo de seu entusiasmo e engajamento crescentes. No entanto, vale lembrar que os números apresentados no relatório representam apenas o setor formal e rastreável. A verdadeira dimensão do mercado de arte é muito maior e, em grande parte, informal, tanto no Brasil quanto no exterior. Enquanto o Brasil conquista uma posição mais sólida no setor formal, o crescimento no mercado secundário é um desafio e, ao mesmo tempo, uma oportunidade para consolidar ainda mais a presença do país no mercado de arte global.