O Crescimento Econômico do Brasil e Sua Participação no Mercado Global de Artes Visuais

Série “Série “Assim é… se lhe parece…” – Nelson Leirner – 2010
Por Graziela Martine e Patrícia Amorim de Souza | Art Homage
O Brasil tem passado por transformações econômicas significativas ao longo das últimas décadas. Embora seu crescimento econômico tenha enfrentado desafios, o país emergiu como um participante importante no cenário global. Historicamente conhecido por suas riquezas naturais, como minerais e recursos agrícolas, o Brasil também tem ganhado reconhecimento em setores como energia renovável, especialmente no programa de biocombustíveis e em tecnologia, com o desenvolvimento de fintechs e agrotech. Além disso, o país tem se destacado no campo cultural e, particularmente, no mercado de artes visuais. Neste contexto, é importante analisar como as mudanças econômicas e sociais no Brasil influenciam sua inserção no mercado global de arte contemporânea, destacando o papel de artistas, galeristas, instituições e colecionadores na construção de uma presença crescente e reconhecida internacionalmente.
Ao longo dos últimos 20 anos, o Brasil passou a integrar o grupo BRICS, composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O grupo foi estabelecido como uma coalizão de economias emergentes e continua a ser relevante nas discussões econômicas globais. Esse crescimento econômico tem sido acompanhado por uma crescente sofisticação dos mercados internos, incluindo o setor de arte e cultura. A arte, tradicionalmente considerada uma área nichada e de acesso restrito às elites, tornou-se mais acessível e democrática no Brasil moderno, reflexo da ascensão de uma nova classe média e do aumento do poder aquisitivo geral da população.
Com uma infraestrutura cultural que inclui museus renomados, galerias influentes e feiras de arte de prestígio, como a SP-Arte, o Brasil tem se posicionado como um centro relevante para as artes visuais na América Latina. Nos últimos anos, mais artistas brasileiros têm sido representados por galerias internacionais, ampliando sua visibilidade e participação em feiras fora do país. Além disso, as galerias locais também têm marcado presença em eventos globais, fortalecendo os laços entre o Brasil e o mercado internacional de arte. A Bienal de Veneza, o evento de arte mais importante do mundo, teve sua edição de 2024 curada por Adriano Pedrosa, o primeiro brasileiro a ocupar esse posto. Essa nomeação destacou ainda mais a inserção do Brasil no mercado global de artes visuais, atraindo a atenção de colecionadores e críticos internacionais.
O mercado global de arte movimenta bilhões de dólares anualmente e o Brasil tem se destacado como um país de importância crescente neste cenário. Historicamente, nosso país sempre teve uma relação forte com as artes, desde a época colonial, passando pelo modernismo até o concretismo. Contudo, foi apenas nas últimas décadas que o mercado de arte no Brasil começou a alcançar uma relevância significativa no contexto internacional.
A arte contemporânea brasileira tem sido especialmente valorizada, com artistas como Lygia Clark, Adriana Varejão e, mais recentemente, artistas como Lucas Arruda, Erika Verzutti, Maria Nepomuceno e Sophia Loeb têm conquistado reconhecimento na cena internacional. Esses nomes são representados por grandes galerias internacionais e têm participado de importantes exposições e eventos ao redor do mundo. Artistas consagrados, como Lygia Clark e Adriana Varejão, têm marcado presença em leilões de prestígio, como os da Sotheby’s e Christie’s, enquanto artistas mais recentes estão ganhando destaque em mostras significativas. Essas são apenas alguns dos muitos exemplos que reafirmam a relevância da produção artística brasileira no cenário global. Essas conquistas refletem o fortalecimento institucional do mercado de arte brasileiro, que tem se consolidado graças ao investimento em galerias e museus, bem como ao aumento do colecionismo privado.
De acordo com relatórios recentes do mercado de arte, o Brasil ainda responde por uma fatia modesta do mercado global. Entretanto, é importante ressaltar que, em termos de desenvolvimento e potencial, o país tem crescido significativamente, o que o posiciona de maneira promissora para os próximos anos. A fatia brasileira no mercado global de artes visuais representa aproximadamente 1,5% a 2% das vendas globais, ainda distante dos principais players, como os Estados Unidos, China e Reino Unido, mas com uma tendência de crescimento sustentável.
A arte contemporânea brasileira tem características únicas que a distinguem no mercado global. A pluralidade cultural do Brasil, que incorpora influências indígenas, africanas, europeias e asiáticas, resulta em uma produção artística diversificada e rica em narrativas visuais que refletem questões sociais, políticas e ambientais. Além disso, o cenário de arte no Brasil está profundamente enraizado em um contexto histórico de resistência e crítica ao status quo, o que confere às obras um caráter expressivo e de grande relevância internacional.
Os artistas brasileiros têm se beneficiado de uma crescente visibilidade proporcionada por feiras de arte, residências artísticas e a proliferação de galerias com alcance global. Esta internacionalização da arte brasileira tem permitido a criação de pontes culturais e econômicas entre o Brasil e outras partes do mundo, o que contribui para o reconhecimento e valorização da produção artística do país.
Apesar dos avanços, o mercado de arte brasileiro ainda enfrenta desafios significativos. A instabilidade econômica, as flutuações cambiais e a falta de incentivos fiscais para o mercado de arte dificultam o crescimento acelerado. Além disso, o mercado interno ainda é relativamente pequeno em comparação com os principais centros globais de arte, o que limita o volume de transações e a inserção do país no topo do mercado global.
No entanto, as oportunidades são vastas. Com um potencial inexplorado nas regiões Norte e Nordeste do país e uma juventude artística cada vez mais engajada, o Brasil tem chance de ampliar sua participação no mercado global e o desenvolvimento de políticas públicas de incentivo à cultura e à arte também pode ser um diferencial importante para alavancar o setor nos próximos anos.
Embora ainda seja um player emergente no mercado global de arte, temos demonstrado crescimento consistente e promissor. A valorização da arte contemporânea brasileira no cenário internacional e o fortalecimento das instituições culturais no país são indicativos de que a arte pode desempenhar um papel ainda mais relevante em seu futuro econômico e cultural. Se os desafios forem superados, o Brasil poderá se consolidar como um importante centro global de arte, com impacto significativo no mercado mundial.