A Alquimia das Cores e o Movimento Óptico: A Nova Exposição de Julio Le Parc, na Nara Roesler São Paulo
Por Graziela Martine e Patrícia Amorim de Souza | Art Homage
Ver uma exposição de Julio Le Parc é uma experiência sensorial única. Ao vivo, as obras de Le Parc ganham uma nova dimensão que desafia a simples descrição. A forma como a luz interage com os elementos das suas obras cria um espetáculo de movimento e cor que transcende o estático, envolvendo o espectador em uma dança de luzes e sombras. É um convite à participação ativa, uma característica central no trabalho de Le Parc, que transforma a experiência estética em um diálogo contínuo entre a obra e o público.
Portrait do artista Julio Le Parc em seu ateliê
Julio Le Parc, nascido em 1928 em Mendoza, Argentina, é uma figura seminal na arte óptica e cinética, cujas inovações transformaram a percepção do movimento e da luz na arte contemporânea. Com uma carreira que abrange mais de seis décadas, Le Parc tem sido um pioneiro em experimentar luz, movimento e cor, propondo novas interações entre arte e sociedade sob uma perspectiva utópica. Suas obras abrangem desde telas, móbiles e esculturas até instalações dinâmicas que desafiam os limites tradicionais da arte, muitas vezes utilizando técnicas que envolvem a manipulação da luz e do movimento real no espaço.
O trabalho de Julio Le Parc é não apenas uma referência estética e conceitual, mas também um investimento valorizado no mercado de arte. Suas obras têm sido leiloadas diversas vezes, com preços realizados variando de 40.000 USD a valores superiores a 500.000 USD, dependendo do tamanho e do suporte da obra. O preço recorde de Julio Le Parc em leilão foi alcançado em 2010 na Christie’s de Nova York, quando sua obra “Seuil de Perception, Continuel-lumiére-Mobile” foi vendida por 506.500 USD. Essa valorização é amplamente justificada pela importância histórica de Le Parc como um dos fundadores do Groupe de Recherche d’Art Visuel (GRAV) em 1960. Participar da fundação de um movimento artístico é um feito extraordinário, reservado para poucos artistas. O GRAV, com seu compromisso em engajar o público de maneira interativa e transformar a experiência estética do espectador, deixou um legado duradouro na arte contemporânea. Esse movimento visava encorajar uma percepção ativa e crítica, utilizando exposições em locais alternativos e até mesmo na rua, desmaterializando a arte e distanciando-se das exigências mercadológicas, promovendo uma arte de caráter sociopolítico.
Julio Le Parc, Alchimie, tinta acrílica sobre tela
Além de sua participação na fundação do GRAV, Le Parc é um artista sólido e robusto, com uma carreira contínua e prolífica. Ele está constantemente em produção e suas obras são representadas por grandes galerias, sendo exibidas em diversas exposições e coleções ao redor do mundo. Essa presença constante e a produção contínua de obras de alta qualidade contribuem significativamente para a alta valorização de suas peças no mercado de arte. Adquirir uma obra de Le Parc é, portanto, não apenas um ato de apreciação artística, mas também uma decisão estratégica de investimento.
A exposição “Julio Le Parc: Couleurs” na Nara Roesler em São Paulo celebra a obra deste artista visionário, reunindo mais de 45 trabalhos recentes, incluindo pinturas, desenhos e um móbile de grandes dimensões. O núcleo poético da obra de Le Parc é o estudo do movimento, explorado de inúmeras maneiras ao longo de sua carreira. Esta mostra, no entanto, destaca seu foco mais recente na série “Alquimias”, iniciada na década de 1980. Nesta série, Le Parc investiga a interação das cores, utilizando uma paleta de 14 tonalidades desde 1959, que vão dos vermelhos e laranjas vibrantes aos azuis e roxos mais frios.
As “Alquimias” apresentam cores fragmentadas em pequenas partículas que, vistas de longe, se assemelham a nuvens cromáticas vibrantes. De perto, essas partículas revelam uma complexa composição de cores que interagem entre si, criando uma sensação de movimento e dinamismo. Complementando essa série, a mostra inclui a série “Ondas”, onde faixas de cores quentes e frias se intercalam através de esquemas sinuosos, gerando superfícies dinâmicas e interativas.
Julio Le Parc, Théme, tinta acrílica sobre tela
Além das pinturas, a exposição apresenta um móbile inédito, refletindo a mesma transição cromática das séries “Alquimias” e “Ondas”. O uso de móbiles por Le Parc é uma constante em sua carreira, e este novo trabalho continua a explorar a interação entre luz e movimento.
A exposição também revisita a série histórica “Continuel Lumière”, criada em 1960. Essas estruturas luminosas utilizam placas de acrílico coloridas com padrões geométricos, que ao serem iluminadas criam um efeito vertical e ascendente, enfatizando o impacto da luz sobre o espectador.
Le Parc sempre criticou a exclusividade de certos meios sociais e buscou novas locações para a criação contemporânea, fora dos circuitos tradicionais. Esse espírito de inovação e desafio às normas estabelecidas é palpável em suas exposições. Ele valoriza a importância de manter a arte acessível e em constante diálogo com o público.
Le Parc descreve suas obras como esquemas em movimento, paralelos ao cinema, mas com um foco na experimentação de luz e movimento que vai além das imagens em sequência. Suas instalações, como os móbiles e as estruturas luminosas, transformam o espaço expositivo em um ambiente dinâmico, onde a luz se torna um material tangível e mutável.
A exposição na Nara Roesler São Paulo é uma oportunidade imperdível para apreciar a profundidade do trabalho de Julio Le Parc. A interação das cores e o movimento contínuo das suas obras criam uma experiência, onde a luz e a sombra se tornam protagonistas de uma narrativa visual complexa. É uma celebração da capacidade de Le Parc de transformar a percepção e envolver o espectador em uma jornada visual e sensorial. A mostra reafirma a relevância de sua obra no cenário contemporâneo e convida todos a explorar a profundidade de suas criações, que continuam a inspirar e desafiar nossos sentidos e pensamentos.