Narrativas Visuais: A Profundidade de uma Coleção de Artes
Por Graziela Martine e Patrícia Amorim de Souza
No vasto e complexo universo das artes visuais, as visitas guiadas emergem como instrumentos essenciais para o aprofundamento e a compreensão crítica das obras. Elas transcendem a mera observação, oferecendo uma imersão contextual e narrativa que enriquece a experiência do observador. Guiados por artistas, curadores ou colecionadores, os visitantes são introduzidos a nuances e significados que, de outra forma, permaneceriam ocultos. Essa interação direta facilita uma conexão emocional e intelectual mais profunda com a arte, tornando-a mais acessível e significativa.
A Art Homage realizou recentemente uma visita guiada exclusiva para os clientes da Lifetime à residência de Myra Babenco, filha da icônica galerista Raquel Arnaud e do renomado cineasta Héctor Babenco. Foi uma experiência singular que proporcionou um vislumbre íntimo e privilegiado do mundo das artes. Myra, além de ser a atual diretora da Galeria Raquel Arnaud, é uma colecionadora de notável sensibilidade. Sua coleção privada, exibida com esmero em sua casa, inclui obras de figuras expoentes como Sérgio Camargo, Waltércio Caldas, Cruz Diez, Soto, Mira Schendel, Barsotti, Iole de Freitas, Piza, Célia Euvaldo, Wolfram Ullrich, Elizabeth Jobim, Carla Chaim, Nuno Ramos, entre outros.
A trajetória de Raquel Arnaud é uma narrativa de pioneirismo e dedicação incansável à arte contemporânea no Brasil. Desde os anos 1960, quando começou sua carreira, Raquel se envolveu com grandes nomes da arte, como Lasar Segall e Pietro Maria Bardi, no Museu de Arte de São Paulo (MASP). Em 1973, fundou o Gabinete de Artes Gráficas, que evoluiu para o Gabinete de Arte Raquel Arnaud e, finalmente, para a Galeria Raquel Arnaud. Este espaço tornou-se um epicentro para a abstração geométrica e as investigações contemporâneas, destacando-se pela coerência estética e pela contribuição singular ao cenário artístico nacional e internacional. Com o passar do tempo, ela viu a necessidade de preservar a rica história da arte brasileira. Por isso, em 1997, decidiu criar o Instituto de Arte Contemporânea (IAC), um espaço onde não apenas se guardam documentos, mas se acende a memória coletiva. Raquel acreditava que a arte e seus criadores mereciam ser lembrados e compreendidos nas suas nuances. O IAC, com suas mais de 80 mil peças – que vão de anotações a fotos e cartas – é um verdadeiro tesouro que revela o processo criativo desses artistas, sua vida e suas interações com movimentos artísticos ao longo da história.
Crescer no ambiente vibrante e criativo proporcionado por Raquel Arnaud indubitavelmente moldou a visão e o apreço de Myra Babenco pela arte. Durante nossa visita, Myra compartilhou histórias que elucidam a profundidade de sua relação com as obras e seus criadores. Uma dessas histórias envolve uma pequena escultura branca de Sérgio Camargo, presenteada a Myra quando ela perdeu seu primeiro dente. Este gesto simples, mas carregado de significado, simboliza a proximidade e a intimidade que ela cultivou com os artistas desde a infância. Outro exemplo notável é a obra dedicada a Myra por Mira Schendel, uma das figuras mais proeminentes da arte brasileira. Esta peça, criada especialmente para Myra, revela a dimensão pessoal e afetiva que permeia sua coleção. Tais relatos ilustram não apenas a importância das obras em si, mas também as histórias e conexões humanas que elas representam.
A visita organizada pela Art Homage para o grupo da Lifetime sublinha a relevância dessas experiências exclusivas. Elas permitem que colecionadores, investidores e amantes da arte compreendam, em profundidade, a coerência e a evolução dos artistas. Mais do que observar as obras, os visitantes são imersos nas narrativas pessoais e contextuais que as cercam, enriquecendo sua apreciação e compreensão.
Visitas guiadas, como a que realizamos na casa de Myra Babenco, são essenciais para uma compreensão mais aprofundada e pessoal da arte. Elas oferecem uma oportunidade única de conhecer a trajetória dos artistas, a visão dos colecionadores e o contexto em que as obras foram criadas e adquiridas.
Através dessas experiências, podemos apreciar melhor a riqueza e a diversidade da arte contemporânea, assim como a dedicação e o amor que colecionadores como Myra Babenco têm por suas coleções.
A Galeria Raquel Arnaud continua a ser um farol no mundo da arte, guiada pela paixão e expertise de Raquel Arnaud e, agora, também pela sua filha Myra, que segue os passos da mãe com a mesma dedicação e visão. A profundidade do conhecimento e a intimidade com a arte que essas visitas proporcionam são inestimáveis, revelando camadas de significado e emoção que só podem ser plenamente compreendidas através dessa experiência direta e pessoal.