Vinhos laranjas: conheça mais sobre esse antigo produto popularizado por Josko Gravner
Se você gosta de vinhos, muito provavelmente já ouviu falar em vinhos laranjas. Incomuns nas prateleiras da maioria das adegas e lojas especializadas, esses vinhos de coloração âmbar nada mais são do que os antepassados dos vinhos brancos, e sua cor não deriva de nenhum ingrediente pouco conhecido.
Como são feitos os vinhos laranjas?
Basicamente, os vinhos laranjas são vinhos produzidos com uvas Vitis vinífera brancas, como a maioria dos vinhos brancos. A grande diferença, entretanto, está no processo: ao contrário dos brancos, estes vinhos são fermentados sem a remoção das cascas, que permanecem em contato com o mosto durante um período prolongado, atribuindo características de sabor e aroma distintas, além da característica coloração âmbar.
Por que esses vinhos ficaram tanto tempo fora do mercado?
Os vinhos brancos como conhecemos são uma invenção moderna, o que significa que os vinhos produzidos antigamente a partir de uvas brancas eram fermentados junto com as cascas. Contudo, ao longo dos milênios de evolução do vinho, produtores descobriram que a fermentação de uvas brancas resultava em um produto mais suave e refrescante, o que fez com que os vinhos laranjas sobrevivessem apenas em algumas culturas tradicionais distantes dos grandes centros de produção em escala industrial, com destaque para Eslovênia, Croácia e a Geórgia.
Como os vinhos laranjas voltaram ao mainstream?
No ano 2000, Josko Gravner, enólogo experiente que produzia vinhos renomados em terras cultivadas por sua família na região de Friuli-Venezia Giulia, visitou a Geórgia, onde conheceu as técnicas de produção que caracterizavam os vinhos laranjas, com destaque para a fermentação em ânforas com o mosto em contato com as cascas das uvas brancas.
De volta à Itália, Gravner trocou as barricas de carvalho pelas ânforas enterradas e e arrancou vinhas de mais de 60 anos da casta Chardonnay para plantar Ribolla Gialla, uva ancestral e nativa do Friuli, dando início à produção dos seus vinhos de coloração âmbar e maceração longa.
Como foi a reação da crítica e do público?
Como tudo o que é diferente, os vinhos laranjas não tiveram aceitação imediata. Hoje tido como gênio, Josko Gravner foi duramente criticado por apresentar um produto que diferia tanto dos tradicionais vinhos brancos produzidos na região onde estão situadas as terras de sua família.
O primeiro vinho produzido com as técnicas de maceração longa em ânforas pelo renomado enólogo veio em 2001, mas levou alguns anos até chegar ao mercado. Na época em que começou a ser vendido, o vinho de cor âmbar de Gravner não foi compreendido pela maioria dos críticos, que estranharam aquele sabor diferente de tudo que haviam provado até então.
Contudo, o estilo se provou um gosto adquirido, e não demorou para conquistar paladares ao redor do planeta, fazendo com que outros produtores adotassem as técnicas disseminadas e revisitadas por Gravner. Atualmente, vinhos laranjas são produzidos em diversos países, como França, Portugal, Argentina e até mesmo no Brasil.
Quase que como em uma revanche pelas críticas sofridas, Josko Gravner também alfineta os críticos que popularizaram o termo vinho laranja. “Os meus vinhos não têm nada de laranja, são de cor âmbar. Um vinho laranja é um vinho estragado”, costuma dizer o enólogo.