Há 4 anos atrás a OMS declarava que a Covid-19 havia se tornado uma pandemia de escala mundial.

Confira o momento atual, os impactos e como a economia brasileira evoluiu no pós-pandemia
Nesta segunda-feira, dia 11 de março de 2024, chegamos ao quarto ano desde o início da pandemia[1]. No dia 26 daquele mesmo mês, o Brasil registrava o primeiro caso da doença. Desde os primeiros momentos de ruas vazias até a volta à normalidade tivemos altos e baixos. Este documento se dedica a fazer uma análise da economia brasileira desde o começo da crise sanitária até o momento atual. Nosso foco é a evolução dos principais indicadores, a saber: inflação e política monetária e atividade econômica.
As fases do pós-pandemia
Dividimos o ciclo de atividade pós-pandemia em 3 fases que guiarão a nossa análise:
1. Paralisação: março de 2020 e os 6 meses seguintes
Período marcado por um forte recuo da atividade seguido por uma recuperação puxada principalmente pelos incentivos fiscais (programas de transferência de renda e de proteção ao emprego).
2. A retomada inicial: entre o final de 2020 e o final de 2021
A reabertura gradual da economia e o início da vacinação foram ajudadas pela continuidade dos programas de transferência de renda. Mas as incertezas em relação à pandemia e as novas ondas do vírus serviram como limitantes ao avanço da atividade que oscilou ao redor do patamar pré-pandemia durante todo o período.
3. Retomada sólida: a partir de 2022
A reabertura total e a normalização do mercado de trabalho deram impulso à atividade econômica que avançou para além do patamar observado em 2020.
4. Momento atual
Os indicadores
Nesta seção vamos analisar os principais indicadores econômicos no Brasil no período pós-pandemia usando as fases definidas na seção anterior.
Inflação e Política Monetária
Um dos principais destaques do pós-pandemia foi a evolução do IPCA. Logo no início da crise sanitária houve um forte recuo da inflação brasileira que passou de 4,2% em janeiro de 2020 para menos de 3,0% entre abril e agosto do mesmo ano, muito aquém da meta que era de 4,0% para aquele ano. A queda na demanda por bens e serviços puxou os índices de preços para baixo. Neste mesmo período, na tentativa de reverter a queda no consumo, o Banco Central baixou os juros para 2%, o menor nível histórico, e pela primeira vez desde o início do regime de metas a Selic ficou abaixo da inflação.
Em outubro de 2020, ainda durante o período de paralisação, a inflação voltou ao centro da meta. Neste momento, a recuperação da demanda era incipiente, ajudada pelos programas de ajuda fiscal. A alta nos preços vinha de pressão de oferta, com elevação nos preços no atacado. Os gargalos de produção ao redor do mundo puxaram os preços para cima. Dois exemplos foram emblemáticos no período. Em primeiro lugar a falta de chips e microcondutores à medida que o aumentava o consumo de computadores para o trabalho remoto. Este contexto levou à falta de produtos para a produção de máquinas e carros, cujo preço amentou significativamente. O segundo exemplo era o abre e fecha de portos e fábricas na China por conta da política Zero Covid do governo que atrasava a produção e o escoamento dos produtos.
Na tentativa de debelar os efeitos secundários do choque de oferta e o repasse para os demais preços da economia, o Banco Central voltou a subir juros em março de 2021. A normalização das taxas, leia-se volta ao nível neutro de 4,0% aconteceu apenas em meados daquele ano.
Ainda assim a inflação continuou subindo e chegou a seu primeiro pico em novembro de 2021 (10,7%). Após um breve período de desaceleração, os preços ao consumidor tiveram um repique no início de 2022 com o início da Guerra da Ucrânia e o forte impacto sobre os preços de grãos e de energia (petróleo e gás natural).
A retomada sólida da atividade econômica ajudou a demanda e colocou ainda mais pressão sobre os preços. O IPCA atingiu um novo pico (11,75%) em abril de 2022. A lenta desaceleração manteve a inflação ainda muito acima da meta e a autoridade monetária continuou subindo os juros. A Selic avançou até 13,75% em setembro de 2022, se aproximando da taxa de referência vigente entre 2015 e 2016.
A deflação dos preços ao consumidor a partir de meados de 2022 tem 2 fases[2]. Na primeira, houve acomodação dos preços afetados pela guerra na Ucrânia, mais notadamente os preços de grãos e de energia. Além disso, os preços de importados no Brasil caíram ajudados pelo câmbio. Em seguida, o segundo estágio foi o mais lento com a desaceleração mais branda dos preços de serviços que ainda estão mais altos do que seria confortável para a autoridade monetária.
MOMENTO ATUAL:
Estamos no meio do ciclo de queda de juros. Já foram 250 pontos base que levaram a Selic de 13,75% em meados de 2023 para 11,25% na última reunião realizada no final de janeiro. A inflação desacelerou, em que pese a acomodação próxima ao teto da meta e deu conforto ao Banco Central que indica que mais cortes ainda estão por vir.
A resistência dos preços de serviços, a volta dos preços de alimentos e o aquecimento do mercado de trabalho são riscos importantes ao cenário prospectivo e podem impor limite ao fim do ciclo. Além disso, a política fiscal, ainda fortemente expansionista, atua no sentido de inflar a demanda e o consumo, gerando preocupação à autoridade monetária.
Atividade
Durante a paralisação, a economia desacelerou fortemente. No pior momento da pandemia, em abril de 2020 a atividade econômica, medida pelo IBC-Br, tinha desacelerado 16,0% em relação ao período pré-pandemia. O retorno que veio em seguida foi puxado pela recuperação do comércio e da indústria, a medida em que a lenda reabertura se desenhava e o impulso fiscal ajudava a demanda.
Durante a retomada inicial e com mais força, no período de crescimento sólido, o setor de serviços virou o principal destaque e puxou a atividade econômica. Além da mudança no padrão de consumo dos brasileiros, o setor foi beneficiado pelo fim da demanda represada em setores como turismo, restaurantes e entretenimento.
MOMENTO ATUAL
A recuperação do segmento que responde por mais de metade do estoque de vagas de emprego no Brasil foi importante para aquecer o mercado de trabalho e impulsionar os salários,
gerando um ciclo positivo para a economia brasileira. Somado a isso, o impulso fiscal que se acelerou a partir da disputa eleitoral em 2022 e se manteve com o novo governo mantém a demanda aquecida e uma perspectiva positiva para a atividade.
Os altos e baixos vividos pela economia brasileira desde o início da pandemia impuseram muitos desafios aos investidores. Os obstáculos foram desde lidar com o ambiente de incerteza e volatilidade até o contexto de choques de oferta e demanda que levaram a um ciclo inflacionário inédito ao redor do mundo.
A Lifetime esteve ao lado de seus clientes durante todo esse período, usando do aconselhamento profissional para a proteção do patrimônio e proteção de riscos. O ciclo atual também é desafiador com inflação resistente em um ambiente de juros altos, desafios fiscais e tensões geopolíticas. Contamos com especialistas prontos para guiar nossos clientes na composição de uma carteira que busca rentabilidade e segurança.
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Por: Marcella Kawauti, economista na Lifetime Asset
[1] Em 11 de março de 2020, a OMS declarou que a Covid-19 havia se tornado uma pandemia de escala mundial.
[2] As duas fases foram chamadas por Roberto Campos Neto e os diretores do Banco Central de “desinflação em dois estágios”.