História de valor #001: a origem da moeda e como ela transformou o mundo
O surgimento da moeda foi um passo importantíssimo no desenvolvimento das relações comerciais nas grandes civilizações humanas na Europa, na Ásia e na África, tendo revolucionado a forma como lidamos com a economia. Olhando para a nossa sociedade atual, é difícil imaginar um mundo sem moedas, mas essa era a realidade de grandes impérios do passado, seja na região mediterrânea do período pré-homérico ou nas civilizações asteca, maia e inca.
Contudo, antes de falarmos sobre as origens da moeda e seu impacto nas sociedades, precisamos falar sobre o que a define.
O que caracteriza uma moeda?
A palavra “moeda” deriva do nome da deusa romana Juno Moneta, a qual possuía um templo em sua homenagem, onde eram cunhadas as moedas de prata durante o período da República de Roma.
Uma moeda é qualquer objeto que possa ser utilizado como meio de troca em um determinado local, e o seu valor surge a partir de uma relação de confiança entre todos os entes que fazem parte de uma mesma unidade econômica. Suas funções principais, que são:
- Referência para a atribuição de valor aos bens e serviços;
- Meio de troca vigente em um determinado local;
- Potencial de reserva de valor.
Para que possa cumprir essas funções, ela precisa ser feita de material durável e que possa ser marcado, de forma a tornar possível verificar sua autenticidade diante da autoridade que a emitiu.
Como era a economia antes da invenção da moeda?
As primeiras relações comerciais entre indivíduos e grupos humanos se deram na forma de escambo, ou seja, a troca de produtos por outros produtos, de acordo com as demandas e necessidades das partes envolvidas na negociação.
Esse modelo muitas vezes supria as necessidades das partes envolvidas, mas tinha pouco dinamismo, uma vez que as duas partes precisavam desejar mutuamente os bens produzidos pela outra para então tentar chegar a um acordo sobre qual o valor de uma mercadoria com relação a outra.
Algumas sociedades passaram então a utilizar produtos simbólicos como moedas, como grãos de cevada, conchas ou sal. Contudo, esse modelo por vezes não satisfazia as necessidades das relações comerciais entre diferentes grupos humanos, uma vez que um objeto que tem valor de troca em uma determinada sociedade pode não ter o mesmo valor em outra.
A conversão da moeda em dinheiro
Como foi dito antes, moeda pode ser qualquer objeto com valor de troca em uma determinada sociedade. Já o dinheiro, por outro lado, é a moeda formatada em um padrão, com sua origem atestada por um órgão emissor, geralmente vinculado a uma forma de Estado.
Inicialmente, as formas mais rudimentares não seguiam esse padrão, não podendo ser classificadas como dinheiro. O dinheiro surge a partir da produção de moedas de metal adornadas com símbolos nacionais que atestavam a sua autenticidade e, portanto, o seu valor.
Quando surgiram as moedas de metal?
É difícil atribuir a criação de moedas de metal a uma única sociedade humana, mas estudos arqueológicos indicam que elas teriam surgido no Reino da Lídia, que hoje compreende o Oeste da Turquia, durante o século VII antes de Cristo, início do período atualmente compreendido como Antiguidade Clássica (séculos VIII a. C. a V d. C). Elas eram produzidas com uma liga de ouro e prata.
Na China, por volta do século VI antes de Cristo, durante o período conhecido como Dinastia Chou (1122-256 a. C.), surgiram também moedas de bronze, desenvolvidas, ao que tudo indica, sem influência dos povos mediterrâneos que utilizavam moedas, o que sinaliza que sociedades diferentes estavam elaborando conceitos similares.
Na Grécia, moedas de prata já eram utilizadas no século V a. C., e alguns exemplares feitos de ouro, material mais escasso, também existiam, mas em menor quantidade, representando valores maiores. Na Pérsia e no Egito, por outro lado, moedas de ouro eram mais abundantes e já existiam entre os séculos V e IV a. C., respectivamente.
Como a moeda transformou a economia?
A partir do surgimento das moedas, as transações econômicas ganharam muito mais dinamismo, fazendo com que o escambo perdesse relevância nas civilizações que aderiram ao dinheiro e criando novas possibilidades antes inimagináveis.
A disseminação do dinheiro não foi imediata e nem padronizada, com cada sociedade desenvolvendo uma relação própria com suas moedas. Contudo, não tardou para que a influência grega no Mediterrâneo levasse o uso das moedas de prata para outras partes do mundo conhecido, e a ascensão de grandes nações e impérios, como Roma e China, acelerou esse processo em suas zonas de influência, seja pela dominação de povos que anteriormente não utilizavam moeda, seja pela introdução desse conceito a parceiros comerciais estrangeiros.
Dessa forma, novas rotas comerciais se desenvolveram ligando territórios cada vez mais distantes, e grandes centros comerciais começaram a emergir, transformando profundamente as relações comerciais entre indivíduos, instituições e nações.