Real desvaloriza mais de 3% ante o dólar na primeira metade de abril; cotação é a mais alta desde outubro
Por Marcela Kawauti, economista da Lifetime Asset
O real vem perdendo valor desde o início do ano. Após fechar 2023 ao redor de R$/US$ 4,85, a moeda brasileira se desvalorizou 3,4% com relação ao dólar e chegou a R$/US$ 5,01 no final de março. Nos primeiros 15 dias de abril, a depreciação acelerou, com uma perda de valor de 3,2% em apenas duas semanas, levando a cotação a R$/US$ 5,17, o maior nível desde outubro do ano passado, quando começou o conflito entre Israel e Hamas.
A desvalorização do real em relação ao dólar se deve a uma gama de fatores internos e externos. A seguir destacamos os mais importantes:
1 – Escalada das tensões geopolíticas
A piora do conflito no Oriente Médio, com as ofensivas de rebeldes iranianos no Mar Vermelho e, em especial, os ataques do Irã a Israel que aconteceram no último final de semana, encorajam a chamada fuga para segurança. O aumento do risco e da volatilidade dos ativos causada pelas tensões diplomáticas incentiva uma migração do capital dos investidores para ativos de regiões mais seguras, como os Estados Unidos. A demanda maior por dólar fortalece a moeda americana no mundo todo.
2 – Persistência da inflação americana e juros em patamar elevado por mais tempo
Os dados de inflação nos Estados Unidos seguem acima da meta, principalmente por conta da força do mercado de trabalho que impulsiona a demanda via aumento de salários. A piora nos conflitos geopolíticos coloca ainda mais pressão sobre os índices de preços por conta da alta das commodities (em especial o petróleo) e da inflação importada, que é puxada pela moeda mais forte. Neste contexto, o Federal Reserve (Fed) precisa manter os juros em patamar historicamente alto. O rendimento interessante, por sua vez, atrai investidores para os títulos de renda fixa e aumenta a demanda por dólar, atuando como força adicional para a moeda americana.
3 – Aumento das incertezas sobre os rumos da economia brasileira
Além do fortalecimento da moeda americana, a alta na relação R$/US$ também foi puxada pelo aumento de incertezas que pesou sobre a moeda brasileira. Desde o início do ano, o governo brasileiro vem dando indicações de que o ajuste fiscal será menor que o necessário para atingir a meta de equilíbrio entre a arrecadação de impostos e os gastos primários. Na última sexta-feira (12), a formalização desta intenção com a mudança das metas de superávit primário para os próximos anos foi mal recebida pelos investidores, que entendem que a âncora fiscal começa a perder credibilidade já no seu primeiro ano.