Entenda porque a China vem dominando o mercado de carros elétricos

A China, maior produtor industrial do planeta, tem ganhado cada vez mais espaço no mercado global de veículos elétricos, não apenas dominando o mercado asiático, mas invadindo também os mercados do Brasil e da Europa com produtos mais baratos do que os da concorrência e com um nível de qualidade cada vez mais alto.
Dos 62.340 carros elétricos importados para o Brasil entre janeiro de 2017 e agosto de 2023, 51,5% vieram da China. O principal motivo para o sucesso dos veículos chineses em solo brasileiro é a relação custo x benefício, uma vez que esses automóveis tendem a ser significativamente mais baratos do que os concorrentes de outros países.
Mas, afinal, por que os carros elétricos chineses são tão mais baratos que os demais? Quais as intenções da China com seus investimentos bilionários no setor? Para responder a essas perguntas, é preciso voltar um pouco no tempo.
O plano da China para os carros elétricos
O governo chinês deu início a um robusto plano de incentivos para a produção de veículos elétricos em 2009, com isenções de impostos para os compradores e benefícios fiscais para os produtores. A ideia inicial previa o encerramento dos incentivos em 2015, mas o plano segue firme até hoje, e as autoridades chinesas enxergam uma grande oportunidade nesse mercado.
O motivo para os incentivos, entretanto, não é apenas a questão ambiental: a matriz energética chinesa segue sendo uma das mais “sujas” do planeta, sendo o país altamente dependente do carvão e do petróleo para a geração de energia, com baixa participação de fontes de energia renováveis.
O que a China realmente almeja é se consolidar como referência no setor e impulsionar sua atividade industrial via exportação de automóveis. Para isso, as montadoras chinesas investem na produção de carros elétricos voltados para todos os segmentos, desde veículos mais acessíveis até modelos altamente luxuosos, que visam competir com as principais marcas europeias e norte-americanas.
Graças aos incentivos fiscais e menores custos de produção, os veículos chineses chegam à Europa custando cerca de 20% a menos do que os modelos locais, algo que já tem chamado a atenção das autoridades europeias. A Comissão Europeia vem conduzindo uma investigação para avaliar se os subsídios mantêm os preços dos veículos chineses artificialmente baixos, e estuda aplicar tarifas extras aos carros chineses.
Invasão chinesa no Brasil
O mercado automotivo passa por um momento delicado no Brasil, com os preços dos automóveis novos sendo inacessíveis para grande parte da população. Entretanto, as montadoras chinesas enxergaram uma oportunidade nesse cenário, e vêm dominando o mercado de carros elétricos no Brasil, respondendo por mais de metade das vendas no país.
A aposta chinesa abrange desde os consumidores de classe média, oferecendo os dois carros elétricos mais baratos do país, o Caoa Cherry iCar e o JAC E-JS1, até o público de alta renda, com os modelos mais luxuosos da marca BYD.
Contudo, os players do setor vêm se mobilizando para acabar com a isenção tributária para carros elétricos importados para o Brasil, o que faria com que voltasse a incidir a taxa de importação de 35% sobre os veículos elétricos importados, o que pode frear o avanço das marcas chinesas no Brasil.
Por outro lado, a BYD deve iniciar a produção de veículos elétricos na fábrica de Camaçari, na Bahia, anteriormente de propriedade da norte-americana Ford. A expectativa é de que a produção comece em 2025, gerando cerca de cinco mil empregos no país e produzindo inicialmente três modelos da marca em solo nacional.