Análise de Mercado | Comentário Semanal – 20/06/2022
Confira as principais movimentações
13 a 17 de junho
Os riscos de recessão com o prolongamento da invasão na Ucrânia e a decisão do FOMC de elevar os juros básicos em 0,75% foram os destaques no cenário internacional. No Brasil, a última reunião do COPOM, resultando o aumento de 0,50% na taxa de juros, elevando a Selic para 13,25%, movimentaram as notícias no país.
Mercado Global
A S&P Global Ratings, o Instituto de Finanças Internacionais (IIF) e outras casas de análises estão revisando para baixo suas projeções de crescimento. O aperto monetário é uma realidade global e o seu andamento sofreu um choque com o CPI mais alto e, consequentemente, um aperto mais nos EUA.
Os riscos de recessão voltaram à tona com o prolongamento da invasão na Ucrânia e os seus eventos relacionados, que estão trazendo mais inflação e pesando sobre o nível de atividade econômica global. Esses temores de atividade mais fraca derrubam as bolsas em todo mundo. Também não podemos deixar de mencionar a política “Covid Zero” na China, que deve prejudicar ainda mais as cadeias globais de suprimento. Ou seja, estamos caminhando para um crescimento abaixo (agora, mais baixo) do potencial, elevando a possibilidade de uma recessão. Neste momento, os dados de crescimento divulgados já são menores do que o potencial que nos leva a uma recessão “tecnica” (crescendo abaixo do potencial).
EUA: Juros
Antes do CPI mais alto, algumas projeções de mercado estavam com manutenção nessa taxa até set/21 (maio, junho, julho e setembro), em dezembro projeta + 25 pontos, encerrando o ano entre 2,75% e 3%. Algumas “casas” tinham retirado a alta de dezembro.
O Fed resolveu ajustar e aumentar o nível da alta dos juros de 0,50% para 0,75%. Colocando os juros na faixa de 1,50 % e 1,75%. Isso foi consequência dos comentários da Janet Yellen, secretária do Tesouro dos EUA, de que poderia estar equivocada a respeito da trajetória da inflação – choques na economia, problemas nas cadeias de fornecimentos, além da forte alta dos preços de energia e alimentos, pois não haviam sido antecipados da forma correta.
Lembramos, além dos aumentos nos juros, que existe um delay para impactar na economia, em junho foi dado início a redução do Balanço do Fed.
FOMC
O Federal Open Market Committee estabelece a política monetária do FED, a expectativa quase consensual de aumento era de 0,50% na taxa de juros.
O CPI, na sexta (17), saiu bem mais alto, trazendo um novo pico de inflação de 12 meses – saindo 8,3% para 8,6%.
A decisão veio em 0,75%, além disso, o Fed atualizou as suas projeções com a inflação mais alta para os anos de 2022, 2023 e 2024, inflação essa sempre acima da meta e, também, trouxe uma trajetória de juros mais altos do que o mercado estava projetando. Enquanto o mercado é de 3%, o Fed é de 3,4% em 2022 e de 3,8% em 2023.
O Fed está passando pelo mesmo momento que o Brasil passou em out/21 – revisando para cima as expectativas de inflação, que não está arrefecendo, e elevando o modelo contracionista, ou seja, podemos ter outros aumentos de 0,75%.
“Fazer uma política monetária adequada neste ambiente incerto requer o reconhecimento de que a economia muitas vezes evolui de maneiras inesperadas”, disse Powell.
No discurso, Powell foi mais dovish indicando que pode reduzir o ritmo da elevação já na próxima reunião, pois quando questionado colocou o aumento de 0,75% como um cenário fora do comum, não normal.
“Nosso foco principal é usar nossas ferramentas para trazer a inflação de volta à nossa meta de 2% e manter as expectativas de inflação de longo prazo bem ancoradas”.
A fala de Powell
O presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano), Jerome Powell, disse que continua vendo riscos de inflação apontando para cima, mas que a autoridade está comprometida em trazer o indicador para a meta de 2%.
“Nosso foco principal é usar nossas ferramentas para trazer a inflação de volta à nossa meta de 2% e manter as expectativas de inflação de longo prazo bem ancoradas”.
A Inflação surpreendeu para cima desde a reunião de maio e ainda podemos ter surpresas à frente.
Jerome, ainda retirou o trecho de Pouso Suave e falou da possibilidade de acontecer uma recessão.
Entendemos essa mudança de rota como muito positiva, parecida com o que aconteceu com o Copom em out21, quando subiu o ritmo da alta reconhecendo que a inflação não estava arrefecendo.
Europa
Segundo a Bloomberg, o Banco Central Europeu (BCE) está desenvolvendo uma ferramenta de crise que será utilizada se houver uma explosão nos rendimentos de títulos dos países mais fracos da zona do euro. Ainda não está claro como seria o funcionamento da ferramenta. Segundo analistas, a ferramenta pode ajudar a resolver o que parece ser um provável problema para a periferia da zona do euro. “O BCE tem o trabalho mais difícil de todos os outros grandes bancos centrais e essa ferramenta mostra que eles estão tentando se antecipar ao que será uma recuperação econômica desequilibrada quando a inflação diminuir”.
O BCE faz reunião emergencial e sinaliza criação de instrumento contra fragmentação na zona do euro.
O Conselho do BCE orientou a área técnica da entidade a acelerar a criação de um novo instrumento para mitigar os riscos de fragmentação na zona do euro. Ele também decidiu aplicar flexibilidade nos resgates a vencer do Programa de Compras de Emergência de Pandemia (PEPP, na sigla em inglês), com objetivo de preservar o “funcionamento do mecanismo de transmissão monetária”.
Vale ressaltar que, a Gazprom, maior empresa de energia da Rússia, cortou o envio de gás para Itália em cerca de 15%, assim como uma porcentagem para Alemanha, o que acaba impactando também na economia europeia.
COPOM
Na última reunião do Comitê de Política Monetária, a expectativa foi quase consensual de aumento de 0,50% na taxa de juros, elevando a Selic para 13,25%.
O Banco Central (BC) reconhece um cenário mais desafiador, tanto por conta da inflação mundial, como no Brasil. Existe risco de inflação mais alta para 2023, pois estamos acompanhando a revisão das alíquotas de impostos que estão sendo tratadas no Congresso. O cenário que o BC está trabalhando de inflação para 2023 é de 4%, meta de 3,25%, e lembramos que antes o BC estava trabalhando com 3,4%, ou seja, BC revisando o cenário de mais inflação. O mercado já trabalha com uma projeção acima de 4,5% bem perto do teto da meta do BC que é de 4,75%.
Dado isso, olhando o BC e o mercado, podemos ter uma assimetria que irá fazer com que o BC eleve a sua projeção, para 2024 o BC está com 2,7% abaixo da meta.
O BC também comenta a nossa situação fiscal, ponto muito importante, porque quando vemos a deterioração no quadro fiscal, elevamos a expectativa de inflação com a piora nos resultados das contas públicas e elevação das dívidas, criando uma assimetria altista para mais inflação e consequentemente mais juros para combater.
A redução no ICMS, reduz o tributo neste ano, porém eleva no ano que vem. Segundo o BC essa alta é “compatível com a estratégia de convergência da inflação para ao redor da meta ao longo do horizonte relevante”. O comentário do BC “ao redor da meta”, mostra que ele está data dependency (está no aguardo de mais dados para definir a política monetária).
Por último, o BC finaliza: “Para a próxima reunião, o Comitê antevê um novo ajuste, de igual ou menor magnitude”. Ou seja, mesmo com o último IPCA abaixo do consenso, aparentemente o pico ficou em abril, o Copom segue preocupado com a inflação, principalmente na parte fiscal e por pressões globais. O BC será gradual nas ações e na sinalização, pois prepara terreno para o fim deste ciclo de alta e, além disso, também entendemos que o BC pode “abrir mão” do controle da inflação em 2023, ficando um pouco acima da meta.
Informações e Acompanhamento:
- O quadro lá fora é muito ruim, com o problema da inflação e perda da força do crescimento;
- As expectativas estão se deteriorando e todo mundo corre para se proteger – importante ter controle do risco;
- Novo lockdown da China traz queda nas Commodities;
- Greve dos Servidores – ainda continua;
- Aumento nos preços dos combustíveis – Monitorar decisões do governo e possíveis efeitos secundários;
- Importante: o mundo todo está subindo os juros para combater a inflação.
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