Primeiras Impressões | Mercado de trabalho americano desacelerou mais do que o esperado em fevereiro, mas segue aquecido
Por Marcela Kawauti, economista da Lifetime Asset
Ressaltamos frequentemente a importância do mercado de trabalho como termômetro da demanda do consumidor americano e da pressão sobre os índices de preços. Por conta disso, os dados de fevereiro que mostraram desaquecimento do setor trouxeram otimismo ao mercado.
A criação de 275 mil novas vagas de emprego superou o esperado (198 mil vagas), mas os dados referentes a janeiro foram revistos para baixo: de 353 mil para 229 mil. Com este resultado, a média prevista no primeiro bimestre de 2024 era de 275 mil, acima dos 252 mil verificados. O resultado ficou próximo do registrado em 2023: 251 mil vagas na média mensal.
Neste contexto, o desemprego avançou de 3,7% para 3,9%, o maior patamar desde janeiro de 2022. A menor pressão no mercado de trabalho foi sentida pelos salários que desaceleraram de 4,4% em janeiro para 4,3% em fevereiro na comparação com o mesmo mês do ano anterior, de volta ao patamar vigente entre outubro e dezembro do ano passado.
Os dados melhores do que o esperado fomentaram as expectativas de que a primeira queda de juros pode estar próxima. A menor pressão sobre salários daria ao FED o conforto necessário para iniciar o ciclo de afrouxo monetário nas próximas reuniões. Vale ressaltar, no entanto que as últimas divulgações ainda têm sido muito voláteis. Os dados de janeiro, por exemplo, haviam mostrado um aquecimento do emprego maior que o esperado. Além disso, em que pese a desaceleração, a criação média de vagas segue forte e acima do que prevalecia no período pré pandemia.
Entre 2015 e 2019 eram criadas cerca de 190 mil vagas ao mês. Por fim, o avanço dos salários, ainda que em queda, é maior que o dobro da meta de inflação de 2%. Dessa forma, o mercado de trabalho ainda é uma importante pressão de demanda. A Lifetime acredita, portanto, que novas divulgações serão necessárias até que o FED tenha as evidências necessárias de que a inflação caminha de forma sólida para a meta e de que é hora de cortar os juros.