EUA: Moderação da atividade e aceleração da inflação tornam o trabalho do Fed mais difícil
Por Marcela Kawauti, economista da Lifetime Asset
A divulgação do PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos referente ao três primeiros meses de 2024 trouxe notícias ruins para o Federal Reserve (Fed). O crescimento anualizado em relação ao trimestre anterior recuou de 3,4% para 1,6%. Em que pese o fato de que a atividade segue em crescimento pelo sétimo trimestre consecutivo, o dado frustrou os analistas e ficou muito abaixo dos 2,5% esperados.
O detalhamento dos componentes do PIB americano traz sinais mistos. A desaceleração em relação ao trimestre anterior foi puxada pelo setor externo: o crescimento das exportações recuou de 5,1% para 0,9%. Em menor intensidade, o consumo das famílias passou de um crescimento de 3,3% no final de 2023 para 2,5% no início de 2024. A demanda por bens caiu 0,4%, mas o consumo de serviços avançou 4,0%, o melhor resultado desde o 3º trimestre de 2021. Vale ressaltar que a pressão sobre os serviços tem sido o principal motivo por trás da resiliência da inflação ao consumidor em patamar acima da meta.
Para completar o cenário ruim para a inflação, apesar da moderação da atividade, o deflator do PIB acelerou. O indicador que mede a evolução agregada dos preços de todos os setores da economia passou de 1,6% para 3,1%. O núcleo, que exclui preços mais voláteis de alimentação e energia, também cresceu e avançou de 2,0% para 3,7%, chegando a quase o dobro da meta da inflação.
O dados consolidam o cenário chamado de soft landing caracterizado pela desaceleração moderada da atividade, apesar dos juros altos. Mas o impacto de queda da inflação não segue o trajeto de convergência à meta de 2% almejado pelo Fed. Há pouco espaço, portanto, para que o Banco Central americano possa iniciar o ciclo de corte de juros nos próximos meses.